SOPA DE PEDRA

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Hoje em dia, muitos estão dispostos a meter sua colher, mas poucos estão dispostos a ajudar a fazer a sopa.” (Ditado popular)

Está no folclore brasileiro a história de um mendigo que acendendo uma fogueira de gravetos e madeira colhida numa obra perto, improvisou uma trempe, e pôs sobre ela uma lata de dez quilos com água a ferver. Esta encenação juntou vizinhos curiosos no entorno.

– “Estou fazendo uma sopa de pedra”, disse, mostrando uma lasca de granito, jogando-a dentro da lata; pediu a uma senhora que olhava seu movimento, um pouco de sal, que ela atendeu indo à casa buscar o condimento. A outra pessoa pediu uma cebola; e depois, aos demais, suplicou um tomate, um pimentão, uma batata, uma cenoura e restos do jantar da noite anterior…

Não demorou muito tempo que o cheiro atraente trasladasse ao redor e então ele se serviu oferecendo ao redor a sua refeição; quem experimentou, achou deliciosa a “sopa de pedra”…

Certa vez li a curiosa frase de Voltaire, “O livro melhor escrito é a receita de uma sopa”, e resolvi fazer também uma sopa de pedra aproveitando um seixo que colhi no leito do Rio Tietê quando nas suas margens haviam clubes de natação e remo, e as pessoas nadavam e mergulhavam.

Tempero a minha sopa inicialmente com a peroração de Marco Antônio diante do cadáver de César, segundo Shakespeare: “O mal que os homens fazem sobrevive depois deles. O bem é quase sempre enterrado com seus ossos. ”

Boto pitadas de alegria da época em que Juscelino Kubitschek foi presidente, e os brasileiros exultavam com o avanço do Brasil 50 anos em cinco; mas modero o paladar com o vinagre dos anos de supressão da liberdade no regime de exceção.

Evito estragar o apetite com a chamada redemocratização, o cadáver de Tancredo Neves, a demagogia de Ulisses Guimarães e a gordurosa Constituição de 88… não quero juntar a triste memória de Fernando Collor e as folhas secas da corrupção, usadas depois por Fernando Henrique ao comprar a reeleição e criar o Mensalão.

O ingrediente depravado da Odebrecht não estragará a minha sopa, usado indigestamente nos 16 anos de governos lulopetistas, quando oficialmente foi instituída a corrupção no Brasil e as propinas tornaram-se produto de exportação para a América Latina.

Não porei um pingo sequer do óleo queimado da Petrobras, tomada pelo assalto criminoso da gangue do Partido dos Trabalhadores, quadrilha especializada em assaltos ao Erário.

Não misturo porções indigestas das ameaças que vêm com a medida de Dias Toffoli para salvar seus corruptos de estimação ou de conchavo; livrando-me delas com o apetitoso odor de ervas finas e folhas de couve que lembram, pela cor, as fardas dos generais setentões que intervêm na vida nacional, mais patrioticamente do que os defensores de uma intervenção militar.

Recuso a salsa da impunidade, porque neste alimento não se admite a presença de corruptos de estimação, preferindo o sabor da Lava Jato, com a pimenta de cheiro da PF, MP e Justiça Federal; e não acrescento a raiz amarga da direita exibicionista de última hora.

Para enriquecer o caldo, acrescentarei a soja que iria num graneleiro levar comida para os iranianos, mas Trump proibiu de abastecer o navio, intrometendo-se nos nossos negócios. Alguns esqueceram, mas relembro o princípio “O Brasil acima de tudo”…

Por fim, para compensar qualquer mistura inadequada, acrescento três colheres de recados para os inimigos das reformas e do progresso, com um discurso de Cícero, “Até quando abusarás da nossa paciência? ”.

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