SENHOR BISPO

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandada@uol.com.br)

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem” (Agostinho, bispo e doutor da Igreja)

Podem anotar que estas mal traçadas linhas não visam criticar ou muito menos combater partidos, filosofias de vida, igrejas ou seitas religiosas. Trata-se apenas de uma censura a uma autoridade pública que está cometendo um abuso.

Levou-me a isto uma nota de jornal que li, informando que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi à África do Sul (a notícia não diz o que foi fazer) e lá foi a um culto na Igreja Universal, anunciado como Bispo.

Como sabemos, “bispo” (do grego antigo επίσκοπος ou episcopos; e do latim episcopus) quer dizer literalmente “supervisor”, de epi, fim/extremidade + skopos, vista, ou seja, “aquele que vê por cima, pelo alto, que supervisiona”).

No tempo anterior ao cristianismo, ser um bispo era assumir qualquer atividade administrativa nos âmbitos civil, financeiro, militar e judiciário.

A Igreja Universal, onde Crivella é bispo, foi fundada por Edir Macedo e tem uma organização semelhante às denominações tradicionais e como o sacerdócio evangélico admite mulheres, há o feminino “bispa”. A hierarquia tem também presbíteros e diáconos, os pastores equivalentes aos padres.

Bem, se Crivella viajou para a África do Sul como prefeito, suas visitas e reuniões deveriam ser realizadas a serviço da municipalidade carioca, para ter suas passagens e estadias pagas com o dinheiro público; se foi como bispo, que a sua igreja pague.

Faço esta cobrança por que lhe dei meu voto quando foi eleito. Confesso que foi por falta de opção; no primeiro turno, nenhum dos candidatos me atraiu pelo partido, postura ou presumível opção ideológica. O Índio da Costa – por ser frequentador do Tuitter – recebeu meu voto.

No segundo turno, A vs. B, fui induzido a escolher entre Crivella e Freixo. Não precisei matutar para excluir Freixo, como candidato do Partido Socialista do Leblon. Os autodenominados “revolucionários” deste partido foram muito bem classificados como “socialistas caviar”.

O próprio partido, dito “de esquerda, ” tem uma atuação que deixa a desejar por acobertar os vândalos Black-Blocs, atuar quase sempre como um puxadinho do PT e, cujos quadros estão fora da “lista de Janot”, são ótimos de discurso, mas, pelas entidades que dirigem são péssimos administradores.

Assim votei no Crivella, por não ter preconceitos de qualquer ordem, principalmente religiosos. Fui um eleitor entre os 1.700.030.000 votos contra 1.314950.000 que recebeu o seu adversário.

Foi por isto que critiquei Crivella, de pronto, quando insistiu em nomear um filho para a administração municipal, num gesto claro de nepotismo; que foi reforçado depois, dando um cargo para um sócio da filha. E critico-o, enquanto cidadão que paga impostos no município do Rio de Janeiro, sempre que julgar necessário.

Falei outro dia levantando a informação de que a guarda municipal e a própria urbana reduzem seus efetivos nos fins de semana e feriados, e que está sendo implantada no Jardim da Glória uma “cracolândia” e não me venham reclamar depois por que não será por falta de aviso. A Feira do Lixo que estava se insinuando na Rua do Catete foi reprimida pela Guarda Municipal, embora a sua presença não seja diária.

Enfim, imitando o grande Câmara Cascudo sinto-me um bairrista incurável. Ele escreveu: “Não sou nem federal nem estadual. Sou municipal”. É o meu caso. Como não tenho um vereador confiável, cobro do Prefeito, e deixo o bispo para seus fiéis.

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