RESSURREIÇÃO

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A ressurreição derruba três muros intransponíveis: a morte, a injustiça e o fracasso”  (Dom Orlando Brandes)

Intitulei de “Ressuscitem o ‘Bessias’” uma mensagem escrita na semana retrasada comentando a indicação do ex-ministro Eduardo Pazuello, alvo da CPI da Covid, para um cargo a nível ministerial a fim de blindá-lo. (Repetia-se o caso de Dilma querendo livrar o corrupto Lula da prisão; o nome do secretário era Messias, mas a ex-presidente estava fanha na ocasião).

Recebi várias críticas sobre isto; o interessante porém, é que não foi somente dos bolsonaristas defendendo a medida frustrada que igualaria Bolsonaro a Dilma; os pareceres contrários mais contundentes (e alguns ofensivos), vieram de psicopatas decorebas da Bíblia considerando que referir-me à “ressurreição” é um despropósito.

Como admirador do pastor Martin Luther King, imolado pelo racista e extremista James Earl Ray, aproveito um seu pensamento na minha defesa: – “A religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”; e não perdoo esses delirantes que me criticaram.

A ressurreição dos mortos é a base de todas as religiões. Para os cristãos, consta nos Velho e Novo testamentos e nos livros não-canônicos de Baruque, de Enoque e de Esdras, e é emblemática a volta de Jesus Cristo do reino dos mortos.

Assim, a metáfora que eu usei sobre o finado secretário da ex-presidente Dilma, não constitui nem uma ofensa ao morto, nem uma blasfêmia. Não fora a beleza proverbial do texto de Oscar Wilde sobre a ressurreição, encontraríamos nele, isto sim, um insulto ao sagrado.

Contou Wilde que ressurreto, Jesus surgia às vezes à noite, e numa delas reparou um jovem sentado à beira da estrada chorando. – “Porque choras? Perguntou o Nazareno; entre soluços, o rapaz respondeu: – “Eu estava morto e Vós me ressuscitastes; que poderei fazer vendo uma cruel realidade em torno de mim, senão chorar? ”.

Talvez fosse assim o que ‘Bessias’ encontrasse na infeliz conjuntura que o Brasil atravessa. Após tanto tempo afastado do mundo vivente, talvez se entristecesse e chorasse como o moço que Jesus ressuscitou observando o cenário político no Brasil, que provoca lágrimas de revolta a quem realmente ama o nosso País.

Por causa do negacionismo genocida de Bolsonaro, as coisas andam tão mal na luta contra a pandemia do novo coronavírus, pela negligência em todas as ações do governo federal, comprovadamente na falta de insumos hospitalares e até de vacinas!

A mais antiga ressurreição que conhecemos é a de Osiris, primeiro faraó egípcio, assassinado traiçoeiramente pelo irmão Set para tomar o poder. O morto teve várias partes do corpo separadas e atiradas no Rio Nilo; mas a sua dedicada esposa Isis, conseguiu reunir os pedaços e com a ajuda da cunhada Néftis, deusa da morte, ressuscita-o, e Osiris se torna o Deus do Julgamento final.

Essa lembrança mitológica da ressurreição nos leva a Bolsonaro, que vem fazendo de tudo para recuperar a confiança perdida para os que votaram nele contra a corrupção, e os traiu; tornando impossível que ressuscite moralmente.

Sem a hipocrisia dos “cristãos profissionais” e à crença da ressurreição, lembro a passagem bíblica em que Jesus traz Lázaro de volta à vida depois de quatro dias de sepultamento…. Mas considero um feito ainda maior do que ressuscitar os mortos, a certeza que o Cristo tem capacidade de ressuscitar os vivos.

O que não é o caso do Capitão Minto, que mesmo com as orações hipócritas dos pastores e padres políticos que apoiam os seus desatinos, jamais será perdoado pela resistência à imunização contra o vírus, nem por semear o ódio antirrepublicano entre os poderes constituídos.

Nem a ressurreição moral, nem a CPI da Covid, e muito menos o Código Penal, o salvarão da condenação histórica pelas quase 400 mil mortes de brasileiros, em grande parte devidas ao seu negacionismo….

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