PENICILINA

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da superstição. ”(Adam Smith)

Aos fundamentalistas que se mostram – uns mais outros menos agressivos – contestadores dos avanços científicos, ignorando a passagem de Pasteur, Fleming, Sabin e Salk pelo mundo, levaram-me a procurar o registro histórico de um caso que ouvi do meu pai; como nada encontrei tentarei reproduzi-la.

Vai lá com as minhas palavras: – “Homenageado num congresso médico, Alexandre Fleming, no discurso de agradecimento, contou que quando menino caiu numa piscina e estava prestes a se afogar quando um rapaz o salvou… e o moço chamava-se Winston Churchill…

“ – ‘Que coincidência’, comentou uma médica; – ‘Se o doutor Fleming não tivesse sido salvo por Churchill, o nosso mundo não conheceria a penicilina…’.

“ – ‘O curioso’, retrucou outro congressista, – ‘é que se Churchill não tivesse salvo Fleming, o mundo não teria uma personalidade como Winston Churchill’; e contou um fato desconhecido por muitos:

“- ‘Quando combateu na África do Sul, o Primeiro-Ministro britânico, esteve gravemente enfermo, e sir Alexandre Fleming foi de avião ao Continente Africano levando penicilina e curou-o’”.

Esta história é um dos tijolos que construíram o meu respeito pela ciência médica. Por isso, sempre que posso, cito e elogio os cientistas, principalmente os brasileiros que operam na Fundação Oswaldo Cruz (onde tenho minha filha, Paula, pesquisadora) e no Butantã, uma referência mundial.

Reportando-me a Oswaldo Cruz lembro-me que este cientista, que desde criança mostrou interesse pela microbiologia, formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de janeiro em 1892 e a sua tese de doutorado foi “A veiculação microbiana pelas águas”.

Fez numa viagem de estudos a Paris, onde permaneceu por dois anos como membro efetivo do Instituto Pasteur. De volta ao Brasil, participou da comissão que estudava a proliferação de ratos, responsável por um surto de peste bubônica na cidade de Santos.

Retornando ao Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz lançou uma campanha sanitária de prevenção contra as doenças que afligiam a população, febre amarela, peste bubônica e varíola.

Então capital federal, o Rio sofria com a febre amarela endêmica, e o Cientista, enfrentando a opinião geral, lançou a suposição (que se mostrou verdadeira) de que a transmissão da malária se devia ao mosquito; e para combater o inseto, implantou medidas sanitárias com fiscais visitando casas, jardins, quintais e ruas, para eliminar focos de insetos.

Houve resistências, com o povo estimulado pelos jornais e políticos oposicionistas, e a reação foi muito grande. Mesmo assim a campanha deu certo.

Mais tarde os cariocas sofreram a epidemia da varíola, levando Oswaldo Cruz a propor a vacinação em massa da população; foi quando o negacionismo da época se mostrou tão virulento quanto as doenças… Então ocorreu o que se convencionou chamar de “Revolta da Vacina”, que foi derrotada pelo Exército, mas o governo federal cedeu à pressão e suspendeu a obrigatoriedade da imunização.

Como a verdade sempre prevalece, o reconhecimento pelos resultados positivos obtidos graças ao trabalho de Oswaldo Cruz veio em 1908, quando ele foi aclamado como herói e o Instituto de Microbiologia recebeu o seu nome.

Dez anos depois, em 1928, registrou-se a descoberta da benzilpenicilina, ou penicilina G, pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming, sobre quem narramos a passagem histórica acima. Este antibiótico pioneiro passou a ser amplamente utilizado na medicina, salvando milhões de vidas.

Max Weber, que conseguiu a proeza de juntar a Sociologia e a Economia na sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, escreveu que “a crença na verdade científica não procede da natureza, mas é produto de determinadas culturas”, assertiva que nos dá a chance de perguntar: “Como se pode negar o que a humanidade, e nós brasileiros, conquistamos através da Ciência? ”.

 

 

 

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