O GRITO

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“De médico e louco todo mundo tem um pouco” (Machado de Assis)

Nas publicações e círculos culturais entrou em pauta o famoso quadro do norueguês Edvard Munch “O Grito”, pintado por ele em 1908, durante a internação numa clínica psiquiátrica após um colapso nervoso. Estudiosos de vários países, pesquisaram durante anos uma frase escrita a lápis no canto superior esquerdo da tela, “Só podia ter sido pintado por um homem louco!”.

Pensava-se que seria um ato de vandalismo; mas finalmente os curadores do Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design da Noruega concluíram, baseados em estudos de caligrafia, que a frase fora escrita pelo próprio Munch.

O quadro, que sofreu um processo de recuperação, é raramente exposto ao público porque sofre problemas com a umidade, obrigando o Museu a mantê-lo sob a temperatura de 18 graus e iluminação sob controle.

As manifestações artísticas de pacientes psiquiátricos, particularmente dos esquizofrênicos, são expressões emocionantes. Temos no Rio de Janeiro o Museu de Imagens do Inconsciente, com um acervo de mais de 350 mil obras; foi uma criação revolucionária da médica psiquiatra alagoana, Nise Silveira, que tive o prazer de conhecer pessoalmente.

Contrária aos tratamentos agressivos usados à época em pessoas com distúrbios psíquicos, Nise foi pioneira em introduzir na terapia ocupacional a arte-terapia, oferecendo como método terapêutico material de desenho e pintura para incentivar os pacientes a externarem através de imagens os conflitos armazenados no subconsciente.

Partiu também da Psiquiatra a iniciativa de criar a primeira clínica brasileira destinada ao tratamento psiquiátrico em regime de externato, a Casa das Palmeiras, fundada em 1956. As experiências colhidas ali foram aproveitadas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), estimulando iniciativas artísticas dos pacientes.

O perfil cultural de Nise da Silveira é encontrado nos diversos livros que escreveu, destacando-se entre eles “Imagens do Inconsciente” e “O Mundo das Imagens”, e com a herança deixada por ela, o Brasil não fica devendo nada ao concerto das nações no campo da Psiquiatria.

Entre os estudiosos da História da Arte há uma corrente que defende a tese de que com o pintor e gravador norueguês Edvard Munch nasceu o Expressionismo, e o seu famoso “O Grito” é a representação mais marcante.

No Brasil, pintores como Candido Portinari e Tarsila do Amaral, considerados pela crítica como modernistas, produziram obras de influência expressionista, que também chegou à literatura, tendo Mário de Andrade como seu representante.

Se nos saraus da Academia Brasileira de Letras ainda se debate sobre literatura, (o que acho difícil), pela mediocridade da maioria dos seus membros, o Expressionismo está isolado no lockdown do imponderável….

Embora tardiamente, o expressionismo – agora com letra minúscula -, desceu ao lodaçal da ignorância política como anti-cultura, que não pode ser confundida com contracultura (que é protesto) ou subcultura (underground).

Em Brasília, nas casas do Congresso, no STF e nos corredores do Palácio do Planalto, “O Grito” está presente; não assistimos um só parlamentar capaz de usar a oratória, enfrentam os debates no grito; é também gritante entre os togados, o “garantismo” da impunidade; e assistimos o silêncio submisso dos “homens do Presidente” diante dos gritos dele…

Assim, a estética do discurso que consagrou tantos deputados e senadores brasileiros já não ecoa no cenário político; os juízes comprometidos com a Justiça, são raros; e, no Governo Federal, com relação à pandemia que ceifou mais de 260 mil vidas, só se escuta as expressões barulhentas, insanas e sem sentido de Bolsonaro.

A mediocridade vigente e o negacionismo estúpido nos agride e nos revolta; e o Presidente psicopata extrapola qualquer princípio da boa governança, arrancando das nossas gargantas O Grito: “Chega de Insanidade! ”….

 

 

 

 

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