MÚMIAS

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“De tanto enrolares com mentiras, a verdade é uma múmia mentirosa” (Joaquim Pessoa)

O canal televisivo Discovery passa o documentário “O Caçador de Múmias” mostrando viagens e revelações do egiptólogo, arqueólogo e linguista Ramy Romany, trazendo importantes descobertas de múmias pelo mundo afora.

As passagens de Romany pelo antigo Egito, trouxeram-nos as tumbas dos faraós no Vale dos Reis, e o sepulcro imaculado de Tutancâmon com sua múmia intacta num precioso esquife ao lado de inumeráveis riquezas.

Muito antes, no século 400 a/C, o geógrafo e historiador grego Heródoto, considerado por Cícero como o “Pai da História” fez uma viagem de estudos ao Egito, onde, interessado pelas cheias regulares do Rio Nilo, criou a expressão “o Egito é uma dádiva do Nilo”.

E na terra dos faraós ficou abismado pelos fantásticos monumentos, tendo descrito com minúcias as pirâmides. Interessou-se pela religião recebendo dos sacerdotes de Amon lições sobre a constelação politeísta, tomando conhecimento do Livro dos Mortos e o julgamento post-mortem pelo Deus Osíris, imprimindo a crença na ressurreição que levava à preservação do corpo dos defuntos para a vida seguinte.

Nos seus relatos, Heródoto assistiu o trabalho dos embalsamadores de cadáveres que realizavam verdadeiras cirurgias; primeiro, dando um talho nos flancos para extrair as vísceras e, com ganchos apropriados enfiados pelo nariz, fragmentavam e puxavam o cérebro retalhado. Em seguida, lavavam as cavidades com substâncias aromáticas e vedavam o ânus, a boca, o nariz e os ouvidos com uma pasta argilosa com aloés e mirra, cozendo-os depois.

Após esta operação, mergulhavam o corpo inanimado numa banheira com um líquido na base de carbonato de sódio, deixando-o por cerca de quarenta dias, ao fim dos quais recebia uma espécie de verniz, coberto de betume e envolto com uma tira de pano engomado. Estava pronto para o sepultamento em sarcófago previamente pronto.

Nunca tive a oportunidade de visitar o Egito, mas vi uma múmia no Museu Nacional, destruído pela negligência dos que dirigiam a UFRJ como provedores e curadores das amostragens ali colecionadas. Pertencia à sacerdotisa-cantora Sha-Amun-em-Su, datada de 750 a/C. Foi adquirida pelo imperador Pedro I do comerciante italiano Nicolau Fiengo, e aniquilada no incêndio criminoso do Museu.

Ao que me ensinaram os estudos da História do Brasil, os governantes levavam a cultura a sério no Império e durante algum tempo na República. Lembro que o imperador Pedro II foi o primeiro chefe de Estado a cumprimentar Graham Bell  pela invenção do telefone e foi o primeiro chefe de Estado a usá-lo.

É também elogiável o incentivo do presidente Afonso Pena ao marechal Cândido Rondon, para expedições que desbravaram os inóspitos sertões brasileiros, construindo linhas telegráficas e mantendo contato fraternal com os povos indígenas, incentivou a criação do SPI –  Serviço de Proteção ao Índio.

Infelizmente, a cultura e a educação estão mumificadas de algum tempo no Brasil. Às políticas populistas pouco interessa levar ao povo o conhecimento das conquistas civilizatórias da humanidade; no PT-governo assistimos o crime de censurar os livros de Monteiro Lobato, e o Governo Bolsonaro mostra-se inimigo da Ciência.

Ao enfrentarmos o colapso da pandemia do novo coronavírus, temos no Palácio do Planalto embalsamadores do conhecimento médico, com o capitão Bolsonaro diagnosticando drogas ineficazes para covid-19, desdenhando o uso de máscaras, promovendo aglomerações e hostilizando a vacina.

Este comportamento negativista e anti-cultural lembra-me Paolo Mantegazza que me pareceu projetar o perfil deste tresloucado Presidente com o pensamento: “O egoísta, embalsamando-se a si mesmo, transforma-se numa múmia, que não sente a dor, mas que não goza a alegria”.

 

 

 

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