Mosteiro de São Bento abre alas secretas em São Paulo

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O Mosteiro de São Bento sempre foi um marco histórico misterioso em São Paulo por uma razão simples: a maior parte das alas é fechada ao público e, quem vê a igreja, fica imaginando as preciosidades escondidas.

Mosteiro de São Bento - SP

Parte desse mistério será revelado a partir do próximo dia 25, quando áreas restritas do mosteiro serão abertas pela primeira vez para uma exposição de arte contemporânea, com obras de Carlos Eduardo Uchôa, José Spaniol e Marco Giannotti.

Serão abertas salas do colégio e da faculdade, o parlatório do mosteiro e a capela do colégio, que está fechada há tanto tempo que os monges nem lembram quando foi usada pela última vez. O espaço mais restrito do mosteiro, o claustro, permanecerá fechado, mas de uma das salas da exposição será possível espiar o jardim interno, um dos locais que os monges usam para meditar.

A joia da coroa da abertura é a capela do colégio, que fica no terceiro andar do mosteiro e tem uma série de pinturas finalizadas em 1937 pelo austríaco Thomas Scheuchl. “É inacreditável que essa capela fique fechada, mas não temos estrutura para receber visitas”, diz Uchôa, artista que tornou-se monge e é reitor do colégio e da faculdade São Bento.

O mosteiro ocupa um prédio em estilo eclético, construído entre 1910 e 1914, mas está no mesmo local desde 1600. “É a ordem religiosa que está no mesmo local há mais tempo na história de São Paulo”, diz Nestor Goulart Reis Filho, arquiteto especializado na história da cidade. Só uma igreja que permanece no mesmo local é mais antiga que a de São Bento, segundo ele. É a da Santo Antonio, cujos registros mais antigos são de 1592.

Era esse confronto com a história que três artistas buscam. “O convento não é o cubo branco das galerias ou dos museus. É um espaço carregado de história, o que cria uma tensão quando se mostra arte contemporânea aqui”, diz Gianotti.

Já o mosteiro busca aprofundar um diálogo com a cidade que foi interrompido, segundo o abade Mathias Tolentino Braga –abade é o pai espiritual do mosteiro. “A ideia é reconstruir a produção cultural do mosteiro e restabelecer o diálogo com a cidade, a cidadania e a estética”, diz.

Nos anos 60, o mosteiro tinha um cineclube que ficou famoso por exibir filmes do sueco Ingmar Bergman. Antes, teve um grupo de teatro que revelou o ator Sérgio Cardoso.

Uma instalação de Uchôa que ocupará a capela do colégio dá uma ideia do tipo de diálogo que o mosteiro quer travar com a cidade. Entre pinturas de Abrahão e de São Marcos, Uchôa projetará imagens que gravou com meninos da cracolândia. O trabalho chama-se “Redenção”. “Os meninos da cracolândia somos nós e as pessoas parecem não perceber isso”, diz Uchôa.

Fonte: Mário C. Carvalho/Folha Online

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