JULGAR

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa)

No Japão há um templo que projeta no frontispício as estátuas de três macacos de pedra preciosa, um trio que forma um conjunto inseparável. Os símios usam as duas mãos para cerrar a boca, fechar os olhos e tapar as orelhas. Essas figuras são encontradas hoje como bibelôs em qualquer loja de R 1,99.

É um simbolismo que representa a maneira Zen de fugir à responsabilidade de avaliar, tirar conclusões e julgar o que de real se lhes apresenta. “Não ouça, não veja e não fale. Não sei se os deuses e seus profetas interpretam assim. Creio que não, porque todas as religiões do mundo falam de um julgamento divino nas acepções jurídica, psicológica e religiosa.

Está escrito em Sânscrito e nos chegou através do latim, o verbo Julgar, duplicado em transitivo direto e intransitivo; o “judicare” (julgar) é formado por Jus, “lei, direito”, mais Dicere, “dizer, falar”, significando tomar decisão, deliberar na qualidade de juiz, ou formar conceito, emitir parecer, opinião sobre alguém ou algo.

A nossa cultura ocidental miscigenada com o judaísmo e sacramentada pelo cristianismo expõe como ideal de Justiça os julgamentos conforme o Rei Salomão, que se encontra no primeiro livro dos Reis 3,16-28 este exemplo de isenção e sabedoria.

Todo mundo ouviu um dia a história de Salomão julgando a causa de duas mulheres, que haviam parido ao mesmo tempo e o filho de uma delas foi natimorto. Restando apenas um bebé, ambas reivindicaram a maternidade dele.

Resolvendo a questão Salomão decidiu cortar a criança ao meio e que cada mulher ficasse com uma parte. Uma delas disse: – Ah, meu senhor! Dês o menino vivo, não o mateis. A outra, porém, disse: Já que não será meu, nem teu; dividi-o.

O sábio juiz distinguiu que a verdadeira mãe era aquela que impediu a morte do filho e deu-lhe a posse, enquanto condenou à morte a falsária.

A degenerescência dos costumes herdadas do totalitarismo desumano e a concepção maniqueísta criada pela guerra fria, incentivou o egoísmo, a disputa desregrada pelo poder político e a corrida insana pelo dinheiro. Isto feriu as tradições de respeito humano, subvertendo os conceitos de moral e ética.

Esta revolução nos costumes do século XX envolveu arbitrariamente a todo mundo, e no Brasil, tornou-se inseparável da ganância política e do favoritismo jurídico. Os políticos – em sua maioria – tornaram-se desonestos; e os magistrados – pelos desonestos nomeados – fugiram à responsabilidade de julgar.

Uma ideologia desmembrada de princípios, mesmo aleijada expõe a Justiça a uma tortura diária. Neste momento em que escrevo, milhares de crimes são cometidos; a violência contra a mulher e a criança, o tráfico de drogas, a formação de quadrilhas, o roubo e o assassinato fazem parte do nosso cotidiano.

O culto da justiça como o alicerce fundamental da República e da Democracia está sendo trocado pela paixão partidária, subserviência, interpretação restritiva e prevaricação jurídica, por culpa de alguns juízes

Por defender os poderosos, a Justiça está moribunda. Sua túnica pregueada e os olhos vendados são a própria mortalha, sem a espada e a balança; assim será enterrada em vala comum como indigente e dispensável, sem choro, nem vela…

Esta situação faz-me lembrar Rui Barbosa. Os magistrados envolvidos em tramoias não escaparão ao ferrete de Pilatos: “O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde! ”

13 respostas para JULGAR

  1. SE NOSSA CIVILIZAÇÃO É FUNDAMENTADA NO JUDAÍSMOS E NO CRISTIANISMO DEVE TER NO CORAÇÃO QUE:
    1º: Êxodo 23::6 —Quando um pobre comparecer ao tribunal, não cometa injustiça contra ele.7 Não faça acusações falsas, nem condene à morte uma pessoa inocente. Pois eu condenarei aquele que fizer essas coisas más.8 Não aceite dinheiro para torcer a justiça, pois esse dinheiro faz com que as pessoas fiquem cegas e não vejam o que é direito, prejudicando assim a causa daqueles que são inocentes.
    2º: Deuteronômio 1:17 Não fareis acepção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que vos for difícil demais, a trareis a mim, e eu a ouvirei.
    3º: Deuteronômio 16:18 Juízes e oficiais porás em todas as tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá, segundo as tuas tribos, para que julguem o povo com justiça.19 Não torcerás o juízo; não farás acepção de pessoas, nem aceitem suborno; porque o suborno cega os olhos dos sábios, e perverte a causa dos justos.20 A justiça, somente a justiça seguirás, para que vivas, e possuas em herança a terra que o Senhor teu Deus te dá.
    4º: ROMANOS 13: 1 a 7: Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus.2 Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.3 Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela;4 porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal.5 Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência.6 Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo.7 Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.
    5º:Deuteronômio 19:15 uma única testemunha não é suficiente para se condenar alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, que haja cometido…. Pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato.16 Se uma testemunha iníqua se levantar contra alguém, para o acusar de transgressão,17 então aqueles dois homens que tiverem a demanda se apresentarão perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver nesses dias.18 E os juízes inquirirão cuidadosamente; e eis que, sendo a testemunha falsa, e falso o testemunho que deu contra seu irmão,19 far-lhe-ás como ele cuidava fazer a seu irmão; e assim exterminarás o mal do meio de ti.20 Os restantes, ouvindo isso, temerão e nunca mais cometerão semelhante mal no meio de ti.

  2. Carlos Newton Gonçalves Munhoz disse:

    Muito bom. Parabéns

  3. MaRy de Paula disse:

    Excelente como foi colocado a citação de Rui Barbosa.
    O mau juiz, Deus queira, também acabará na cadeia.

  4. “O bom Ladrão, salvou-se. Mas nao há salvação para o Juiz Covarde”
    Esçetacular conclusão do artigo “Julgar” de autoria de Miranda Sá.
    Infelizmente mestre, a Nossa Justiça está Confusa.

  5. PERMITA-ME ACRESCENTAR : ESTÁ
    ACÉFALA !

  6. Irene Mattos Felix disse:

    My lord, maravilhoso artigo
    Estou lendo um livro sobre os poderosos , a maioria já morreu Tinha um diretor todo poderoso da CIA que era implacável nos seus julgamentos e o fim dele , vítima de um derrame ,foi horrível
    Não sei ainda o que acontecerá aos juízes coniventes, já nem falo em covardes, pois não os vejo assim Meu pressentimento é que deles será mais cobrado Abraços

  7. Não haverá Paz duradora enquanto prevalecerem privilégios injustificáveis.

  8. iara kern disse:

    Vivo num tempo em que as pessoas são julgadas por tudo que fazem. Pessoas não têm mais liberdade para fazer o que acha que é melhor para si, pois sempre tem alguém para questionar.

  9. O artigo de Miranda está extraordinário. Seu comentário idem.
    Ambos de parabéns.
    Porém, se há do artigo ao comentário alguma relação com 24 de janeiro, provas não faltarão contra o não inocente sendo julgado.
    Que a justiça dos homens seja feita. Apesar de a de Deus ser dita não falha.

  10. Não sendo ratificada a sua condenação, não teremos covardia.
    Haverá, sim!, outro crime contra a moral e a ética sendo praticado. Será um julgamento de conveniência com o ilícito, com o erro e com a corrupção.
    Refiro à data de 24 próximo.

  11. Manuel Carlos Lopes disse:

    Este artigo é extraordinário.Miranda com seu raciocínio lógico faz uma avaliação correta da Justiça de nossos dias.
    Aos bons o que é dos bons.Aos maus a punição devida e o registro histórico de suas canalhices.

  12. josé carlos disse:

    Excelente observação!
    Se Rui Barbosa hoje vivo fosse haveria de acrescer mais alguma coisa ao conceito acima escrito! Com certeza.