GESTOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Falar é fácil quando se tem palavras que expressem a opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente sentimos. ” (Carlos Drummond de Andrade)
Antigamente havia uma espécie de brinquedo com troca-palavras, que começava por “é preciso não confundir”. Lembro-me de alguns, como “é preciso não confundir a prima Vera com Primavera” e/ou a dos meus tempos de estudante, “é preciso não confundir habeas corpus com corpus christi”…
Atualizando, acho que não se deve misturar “Gesto” com “Mímica”. Li certa vez a proposta de uma linguista dinamarquesa (ou seria sueca?), prevendo um possível encontro com alienígenas, dizendo que vamos nos entender “por meio de gestos”.
A pós-doutora escandinava usou a palavra Gesto no sentido de Mímica. Na sua sinonímia, o substantivo masculino Gesto (do latim “gestu”) tem um triplo sentido, vai de aceno, mímica e sinal; até aparência, ação, ato, e maneira de se expressar.
Da mímica, extraí uma anedota antiga, que conta um diálogo feito por gesticulação entre um embaixador da Inglaterra, estudioso da mímica, e o governador da província de Fianarantsoa no sudoeste de Madagascar.
Nem o Inglês falava o dialeto local, nem o Malgaxe entendia o britânico, de maneira que dialogaram por mímica. O embaixador iniciou mostrando um dedo e o governador expôs dois dedos; a seguir o embaixador apresentou três dedos e o governador, fechou vigorosamente o punho erguendo-o à altura do rosto do interlocutor.
Voltando à Grã-Bretanha, o especialista em linguística apresentou na Academia de Ciências o resultado da sua pesquisa. – “Não trocamos uma só palavra”, disse, “mas nos entendemos perfeitamente”. Relatou que mostrou um dedo afirmando a existência de um só Deus, e obteve como resposta dois dedos aludindo ao Pai e o Filho; para significar o Pai, o Filho e o Espírito Santo, apresentou três dedos; então o outro cerrou o punho afirmando que eram três num só.
Em Madagascar, o Governador comentou com seus assessores o encontro e a conversa silenciosa. – “Ele me mostrou um dedo ameaçando enfiá-lo em mim; respondi que meteria dois dedos nele; ele insistiu dizendo que me enfiaria três; aí eu fechei o punho e ameacei dar-lhe soco na cara. Ele então se retirou com medo. ”
As duas versões mostram que a mímica é inconfiável. Então vamos aos gestos, no sentido de ação, no modo de proceder dos três poderes da República, ao meu modo de ver elogiáveis ou condenáveis.
A civilização trouxe uma maravilhosa simbiose do gesto e da mímica com a língua de sinais que atende pessoas surdas, reconhecida pela linguística como língua natural.
O gesto como ação, pode ser admirado e condenado entre os ocupantes do poder. Compare: Na Justiça, enquanto o STF, que viola o próprio regimento, arquivando os processos de suspeição de 111 ações contra ministros, temos do outro lado o ministro Sérgio Moro, dizendo que com a condenação em última instância do réu, após todos os recursos advocatícios, ou ele escapa antes de morrer ou do crime prescrever.
Também na Suprema Corte, tivemos o gesto de Dias Toffoli, que julgando processo do senador Flávio Bolsonaro, aproveitou para fazer a defesa das escapadas de alguns togados e parentes, impondo restrições ao Coaf, um órgão fiscalizador…
No Legislativo, alcançamos o gesto repugnante do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que enquanto engaveta o projeto AntiCrime, apressou a votação e a aprovação do infame projeto do Abuso de Autoridade para impedir a atuação de policiais federais, promotores e juízes da força tarefa da Lava Jato.
Por fim, no Executivo, o presidente Jair Bolsonaro acena em trocar o slogan “Brasil acima de Tudo” por outro qualquer, ao nomear um procurador-geral vira folha, amigo de hierarcas petistas e crítico da Lava Jato, e aplaudido por Dias Toffoli e Rodrigo Maia…
Os mau gestos dos ocupantes do poder no Brasil bem que estão merecendo os gestos pornomímicos dos patriotas brasileiros…
Meu amigo Miranda, quantos significados tem a palavra “LIBERDADE”