Dilma Rousseff declarou que não viu “nenhuma ação inidônea da ex-ministra Erenice”.
Lula declarou que Erenice “jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste país”.
O presidente não se referia, naturalmente, a alguma opção profissional de Erenice Guerra da qual ele discordasse. Lula estava falando tão somente das tais ações inidôneas que Dilma não viu.
“Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo ao mesmo tempo”, disse Lula sobre Erenice.
“E quando acontece, a pessoa perde”, concluiu o presidente, a respeito da ex-braço direito de Dilma.
Criador e criatura, como se vê, estão pela primeira vez mal ensaiados. Mas isso é problema deles. O problema do Brasil é entender o que está em jogo no caso Erenice.
E o que está em jogo foi enunciado, com grande clareza, pelo próprio Lula: “chegar aqui e se servir”. É só isso. Nada mais é importante realmente, nem mesmo o resultado das eleições.
O que está em jogo é o que será feito com o Estado brasileiro. E quais as reais intenções de seus dirigentes para com ele. Chegar e se servir, ou chegar e servir.
Fora as torcidas organizadas vermelha e azul, não tem a menor importância para os brasileiros comuns a filiação partidária de quem está no poder. Lula chegou lá e praticou uma política econômica conseqüente, diferente da que seu partido propunha. Nesse ponto, serviu ao Estado e à sociedade. É só isso que o Brasil quer.
Mas o Brasil está confuso. Confunde o seu bem-estar com as bravatas esquerdistas do mesmo Lula, acreditando que a vida melhora porque Lula foi pobre.
E é sob as bravatas populistas que a companheirada oportunista se abriga no Estado, para se servir dele – se possível com cadeira cativa.
Essa é a importância do caso Erenice. Mostrar o quanto há, no Plano Dilma, de privatização do Estado pela casta dos amigos dos amigos. E de controle das instituições para a perpetuação de um grupo no poder.
O autoritarismo provém da mediocridade. Ela é a grande – e única – adversária do Brasil nessas eleições.
Guilherme Fiúza, jornalista e escritor
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