Artigo em defesa da Liberdade de Imprensa

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A Imprensa e a Democracia “entre aspas”

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

É impossível imaginar a democracia sem uma imprensa sobrenadando nas onduladas extensões da liberdade sob o império da lei. E sobre a imprensa, ninguém melhor do que o pensador, escritor e poeta Machado de Assis, para falar dela no lead de sua crônica “A Reforma pelo Jornal”.

Escreveu Machado: “Houve uma coisa que fez tremer as aristocracias, mais do que os movimentos populares; foi o jornal. Devia ser curioso vê-las quando um século despertou ao clarão deste ‘fiat’ humano; era a cúpula do seu edifício que desmoronava.

“Com o jornal eram incompatíveis esses parasitas da humanidade, essas fofas individualidades de pergaminho alçado e leito de brasões. O jornal que tende à unidade humana, ao abraço comum, não era um inimigo vulgar, era uma barreira… de papel, não, mas de inteligências, de aspirações”.

O fundador da Academia Brasileira de Letras escreveu este texto 153 anos atrás, em outubro de 1859. E até hoje a imprensa instiga e provoca as aristocracias, sejam as que persistem em usar punhos de renda, sejam exibindo macacões estilizados à moda de George Armani, exibidos por pelegos populistas.

Pela permanente vigilância e uma ameaça definida às tenebrosas transações do poder, enquanto dorme a nossa Pátria Mãe tão distraída, a imprensa brasileira é alvo dos atuais ocupantes do poder.

É por isso que é necessária a defesa contínua e ininterrupta dessa liberdade fundamental que sustenta o regime democrático. Não pode haver uma democracia ‘entre aspas’, que não respeite a liberdade de imprensa, que é a garantia ao direito à informação e à defesa dos direitos humanos.

Em sua 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) há pouco ocorrida em São Paulo, constatou-se que a imprensa enfrenta um “clima hostil” por parte dos governos populistas da América Latina. Convidado para debater o problema, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso disse uma coisa certa: “Estão inventando uma espécie de democracia autoritária: ganha pelo voto e governa atacando a oposição”.

Registre-se que a presidente Dilma Rousseff recebeu um convite especial para a abertura da Assembléia, mas alegando compromissos de agenda, não compareceu. Sua negativa em prestigiar o evento levou o representante do jornal “O Estado de S. Paulo”, Júlio César Mesquita, a comparar sua ausência com a do ex-presidente Fernando Collor, em 1991.

A Presidente – como se viu e como se vê nas eleições municipais – deixou de ser a Chefe da Nação Brasileira para tornar-se Chefe de Facção Partidária, e o PT, seu partido, demonstra uma inegável tendência a considerar a imprensa como inimiga.

Os ataques são vários; tentam conquistar os idealistas tachando os jornais de elitistas e preconceituosos, e também denunciando os órgãos de comunicação como ‘golpistas’. Assim pensam, agem e divulgam os hierarcas do PT, seguidos pelos sabujos que afocinham os restos do seu banquete.

Seguindo a boa prática fascista, querem implantar jornais chapas-brancas que levem o aplauso fácil para a República dos Pelegos, sobrando para a mídia independente a regulamentação dos jornais e a disciplina para os jornalistas. Dessa maneira, limitariam as análises, barrariam as investigações e calariam as opiniões interpretativas.

Após transcrever o pensamento de Machado de Assis, recorremos para encerrar este texto ao professor Denis Lerrer Rosenfield, e sua expressão que vem a propósito:

“Não é suficiente que os cidadãos tenham o direito de votar para eleger os governantes da sua preferência. É necessário também que saibam exatamente em quem estão votando. E os meios para isso somente uma imprensa plenamente livre proporciona”.

5 respostas para Artigo em defesa da Liberdade de Imprensa

  1. Este artigo revela uma verdade que deve preocupar aos que realmente querem uma Democracia com maiúscula.

  2. Não temos uma estadista como presidente.

  3. Isabel Gusmão disse:

    Sensacional o artigo.

  4. Peterson Querino disse:

    Parabéns pelo artigo