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MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

“Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.”   (Machado de Assis)

Fui educado dando valor à amizade; aprendi com meu pai radical nos seus conselhos, um dos quais se tornou, para mim, princípio de vida: – “Nunca se sente à mesa para comer, beber ou jogar, sem ser com amigos”. Sigo até hoje este ensinamento.

Para o povão, o cantor Roberto Carlos ressaltou o amigo na canção em homenagem ao seu parceiro Erasmo Carlos: “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada/ A sua palavra de força, de fé e de carinho/ Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho”; e o mineiríssimo Milton Nascimento reforça esta ideia: “Amigo é coisa pra se guardar/ Debaixo de sete chaves, / Dentro do coração”.

Dicionarizado, o verbete Amigo é um substantivo para os dois gêneros, masculino para amigo e feminino para amiga. Vem do vocábulo latino “amicus,i” originado do verbo “amo”, significando “gostar de”, “amar”.

Coloquialmente usamos para uma pessoa com quem se mantém relação de amizade, de afeto, de companheirismo; e o seu reconhecimento, para os mais exigentes, achei num provérbio histórico vivido pelo filósofo Sócrates da antiga Grécia.

“Conta-se que o Sábio, já reconhecido como uma personalidade respeitada entre os atenienses, mandou construir uma casa para morar com a sua família. Então, os colegas de estudos, conhecidos da Ágora e alguns familiares começaram a criticar a construção.

“Diziam que o frontispício era modesto, que a estrutura externa não era digna de um cidadão da sua personalidade, e quase em unanimidade condenaram os aposentos achando-os pequenos. Enfim, nenhum detalhe escapou à censura.

“Ouvindo os comentários críticos e opiniões contrárias, Sócrates, imperturbável, exclamou: – ‘Provera Deus que a minha casa, tal como eu a desejo, pequena e acanhada, pudesse estar cheia de verdadeiros amigos’”.

Esta preleção tem o peso da sabedoria que o Filósofo com a notável perspicácia nos deixou, através dos seus brilhantes discípulos Platão e Xenofonte – porque ele não deixou escritos os seus pensamentos e ideias.

Por desgostar do poder constituído, Sócrates foi preso, acusado de corromper a juventude e provocar mudanças na religião, desdenhando dos deuses com o princípio “Conhece-te a ti mesmo” que era, para ele, a essência da vida. Foi condenado a suicidar-se tomando um veneno chamado cicuta, em 399 a/C.

Aproveitando os traços desta sapiente trajetória filosófica, qualquer um de nós gostaria de ver as nossas casas repletas de verdadeiros amigos.

Afirmando “amigos de verdade” evitamos vulgarizar a palavra que é empregada, por exemplo, como “amigo do alheio”, referindo-se a ladrão, figurinha carimbada nos meios políticos brasileiros; ou, também, “amigo da onça”, designando quem foi considerado amigo e se revelou traiçoeiro ou desleal.

Temos ainda na gíria brasileira a expressão “amigo urso” também voltada para o infiel e traidor; mas, para compensar, o lado do bem adota “amigo do peito”, aquele que é íntimo, confidente e protetor, o que nos conforta. É este que rareia entre os políticos brasileiros, deixando-os quase todos alheios à realidade por excesso de louvaminhas e falta de informação.

Sócrates, que ainda vive através dos seus ensinamentos, ensinou que “uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”, o que parece um recado secular, antecipado para o presidente Jair Bolsonaro.

O Presidente, enfrentando obstáculos para cumprir suas promessas eleitorais, deve estar atento seu maior amigo e conselheiro, ele próprio, que vive no seu cérebro e no coração desde quando aspirou a presidência da República…

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