ADIVINHAÇÃO

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O verdadeiro é semelhante a Deus; não aparece espontaneamente, temos de o adivinhar pelas suas manifestações” (Goethe)

Nunca acreditei em jogos adivinhatórios praticados por amadores; e também jamais levei a sério os falsos profetas que sobem ao púlpito de igrejas para explorar a crendice alheia; mas, noves fora os trapaceiros, sempre tive curiosidade pelos ancestrais métodos de prever o futuro, com espinhos, cera, fogo, fumaça, observação das nuvens, ossos, sonhos…

Ainda hoje nos interiores da Espanha e de Portugal joga-se ramos de louro na fogueira para, conforme os estalos, crer que determinada intenção dará certo….

Não sei se por brincadeira, a minha avó materna praticava a chamada “criptomancia”, que consiste em apagar um fósforo numa xícara de café quente e, através das figuras que se formam, responder a dúvidas; faz-se a mesma prática jogando água fervendo sobre folhas de chá e conforme elas sobem, será um bom ou mal augúrio…

Mais sofisticada, a arte de adivinhar veio do Oriente com o I-ching, um milenar manual de previsões. Popularizou-se no mundo inteiro tendo os seus hexagramas trocados por figuras no Tarot. Do Leste também chegaram à Europa, e atravessaram o Atlântico, a leitura da sorte pelo Baralho Cigano e a Quiromancia, leitura das linhas das mãos; ambas decifrações são clássicas e habituais.

Procedente da África, o Jogo de Búzios é muito apreciado nas ilhas caribenhas, no Brasil e na Colômbia, e é igualmente costumeira entre adeptos de religiões africanas a observação das chuvas, a germinação de sementes e a trilha de moluscos nas pedras.

Considerados pseudocientíficos, mas estudados com afinco e seriedade, temos a Numerologia e a Astrologia, esta última contando com um grande número de adeptos e de especialistas em mapas astrais, com o desenho da vida e a projeção para o futuro; e, pelo estudo dos signos do zodíaco, faz previsões pelos Horóscopos.

Aceite-se ou negue-se os enigmas para descortinar o futuro, há que se reconhecer que os procedimentos utilizados para predizer o porvir são populares no mundo todo, de Leste a Oeste.

Mesmo no quadro materialista da política, recolheu-se de Tancredo Neves a arte adivinhatória da Aeromancia – previsão pelo estudo das nuvens e dos ventos. É antológica a vidência de Tancredo dizendo que “a política é como nuvem. Num momento você olha e está de um jeito; no momento seguinte, você torna a olhar, e o jeito já mudou…”.

Mais do que uma profecia, essa observação de Tancredo mata a charada da incoerência, da falta de ética e mostra o desprezo de princípios pelos profissionais da política. Na semana passada lemos uma notícia que exemplifica a lição nas nuvens eleitorais corredeiras: “Dos 174 mil candidatos que disputam novamente a eleição, 115 mil concorrem em uma legenda diferente da usada em 2016”.

Os patifes mudam de partido, mudam de nome, mudam de cor e mudam as declarações de renda…  Houve até quem às escondidas trocou o modelo da cueca por uma mais espaçosa para enganar a polícia, depois do flagrante de Chico Rodrigues, senador do DEM e ex-líder do presidente Jair Bolsonaro.

De olho vivo sob as nuvens da política, os brasileiros usam as redes sociais fazendo denúncias que servem como técnica de adivinhação para a Polícia Federal nas investigações para caçar os corruptos que o Presidente diz que já não há.

Os trapaceiros e os imbecis ocupam um grande espaço na vida nacional; os primeiros adivinham por achismo, receitando remédios miraculosos, insinuando perigos pela imunização vacinal e prestidigitam a delinquência dos seus bandidos de estimação.Os outros seguem o que ouvem deles, e os veneram.

É preciso estarmos espertos e lembrarmo-nos de que “nem tudo que reluz é ouro”, como reza o ditado popular; e ficarmos conscientes de que acima das adivinhações está o “Olho que Tudo Vê”, lembrando aos políticos de que estão permanentemente observados.

 

 

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