TEATRO

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial” (William Shakespeare)

O Ministério Público e a Polícia Federal desenvolvem uma peça dramática sobre a corrupção que se enraizou no organismo estatal corrompendo o governo e pervertendo os atores políticos. A Justiça descortina o palco sombrio onde ela própria é protagonista atuando com os outros dois poderes republicanos.

A imagem foi inspirada nos tempos em que eu era aficcionado pelo Teatro, que freqüentei desde menino, guardando na lembrança o colorido esplendoroso das matinês das animadas “revistas” do Teatro Recreio.

Eu era levado pelas mãos de meus pais a estes espetáculos, onde a coreografia entrava em harmonia com a música meio circense, com dança rebolada e esquetes declamados com diálogos cheios de humor e presença de espírito. A sátira política ali apresentada caia na boca do povo e levava o presidente Getúlio Vargas para assisti-las.

Bons tempos aqueles em que o Chefe da Nação podia confraternizar com o público rindo de si mesmo; e ainda melhores quando tive a oportunidade de conhecer o teatro clássico, trazendo viva na memória a soberba interpretação de Romeu por Lawrence Olivier, que tive a felicidade de assistir em Paris nos anos 1950…

A trágica situação que assistimos no Brasil poderia fazer parte do acervo shakespeariano, cujas tragédias estudadas por Nathália Amadei e Vivi Mariox trazem “uma junção desconcertante da nobreza e do cômico-grotesco”.

A nobreza, fazendo parte do coro, é o povo brasileiro; e o tragicômico interpretado pelos atuais governantes lulo-petistas… Aqui, mesmo no sinistro infortúnio, temos até vontade de rir quando os corruptos agem, falam e se defendem acreditando que somos uma nação de idiotas.

Desfilam no palco de pervertida iniqüidade os aloprados com seus dossiês, os propineiros cobiçosos, os governantes infectados pela desonestidade, o Parlamento com seus 300 picaretas e uma Justiça muitas vezes cúmplice.

As “deixas” dos personagens centrais transmitem uma odiosa desfaçatez. Atestam seu gritante amoralismo. Que dizer de Eduardo Cunha justificando uma conta bancária de cinco milhões de dólares com a venda de carne enlatada? E de Delcídio Amaral traçando por “questões humanitárias” uma rota de fuga para um delator preso pela Lava-Jato?

Como avaliar o monólogo do personagem central da desmoralização política, Lula da Silva, ao considerar uma “burrice” do líder do governo no Senado em se deixar prender em flagrante, sem condenar o crime cometido?

Estas são – infelizmente – as representações que me são dadas a assistir, por que o horário dos teatros é impeditivo na minha idade, e os preços são pouco acessíveis para uma classe média, média, real… Então, me conformo com o cinema, onde tenho visto excelentes filmes nos últimos tempos, indicando dois, “De Volta para Casa” e “Ponte dos Espiões”.

No cinema também me agrada trazer Shakeaspeare de volta. Ele é o autor mais filmado de todos os tempos, com mais de 400 filmes de longa metragem reproduzindo as suas peças ou inspirados nelas. Pelo vídeo, podemos ver Romeu e Julieta, Hamlet, Júlio César, Antonio e Cleópatra, Macbeth e Otelo…

E é dele, Shakeaspeare, uma lição inesquecível, que transmito aos jovens: “Ser grande, é abraçar uma grande causa”.  E a grande causa atual é a luta pelo Brasil que nos arranca da assistência passiva para nos tornarmos atores enfrentando os vilões que roubam o patrimônio nacional e traem a Pátria.

Não deixemos os criminosos ficarem apenas com a consciência culpada e amedrontados por sombras. Incentivemos os procuradores, policiais e os juízes a dar um fim ao drama brasileiro fechando as cortinas e encerrando a tragédia da corrupção.

19 respostas para TEATRO

  1. Régis disse:

    Não precisa, mas digo : SOBERBO o texto, aliás, quais deles não o são? Tbém estive na platéia do Walter Pinto, atrás da Rua da Carioca, qdo adolescente.E Shakespeare? Todos nós temos um quê de Hamlet – p´ro bem, e p´ro mal.

  2. James Patrick disse:

    Numa só palavra: sensacional.

  3. marilene marques disse:

    Já não suportamos mais tamanha angústia de a cada dia, sem condições do básico.

  4. Oliveirawa disse:

    Esta é a grande resposta…não se acostumar com a corrupção. Não aceitá-la, combate-la, exigir punição, os contrários a isto, já não se preocupam mais em esconder suas faces. Já não se preocupam mais em usar mascaras, então…que façam entre si seu teatro, e não mais entre nós!

  5. tonifigo1945 disse:

    Caro Miranda

    Quando a idade regra os tempos e costumes … Sempre uma grande lição de História, que ainda podemos escrever … Depende de nós !!!

  6. Mévia disse:

    Devemos e podemos combater esses meliantes, que tem ceifado vidas… Quando perdemos tudo, educação, saúde, segurança, e tantas outras necessidades. A angustia de não ver o final dessa tragédia, é o pior de tudo… Só não podemos mesmo, nos acostumar com a corrupção… Depende de nós termos nosso Brasil de volta…

  7. Inês disse:

    Não tive o privilegio de ir a teatros quando criança, mas tive, graças a Deus, a vontade de aprender nos livros… Vejo tudo com muita tristeza, e com a certeza que não devemos ser coniventes com essa canalhada que aí está, tenho a esperança de que consigamos o nosso país de volta… Sei que não será tão rápido, mas, acontecerá.

  8. Como é costume no teatro: Bravo, mestre! Bravo!

  9. S. Lincoln disse:

    Deixei para ler, aproveitando a tranquilidade da noite… Entretanto, somente agora (0h25) consegui acessar seu texto… Copiei para devora-lo logo cedo, junto com o café da manhã…

  10. Uma virtude tem o PT: hoje sabemos identificar claramente o que é corrupção. Do jeitinho em furar uma fila ao escandaloso caso de Passadena. Desastre desse partido é que seus integrantes renovam esse ensinamento todos os dias, com seus reiterados e cada vez mais graves avanços sobre a coisa pública.

  11. Maysa Bentes disse:

    Simplesmente, espetacular! Sou fã de seus artigos e sigo espalhando via redes sociais. Só para corroborar, esse teatro chamado Política brasileira encena a cada dia uma nova peça nos palcos de Brasília,tentando ludibriar o povo que não suporta mais assistir tanto drama.

  12. Grande, Miranda.Belo texto! E que atores medíocres nesse teatro que é a política atual.

  13. vileite disse:

    Texto genial e muito tocante , parabéns !
    Ah! Já não se faz teatro como antigamente ! Nós , hoje, vivemos um teatro sufocante, aterrorizante e corruptivo que precisa e deve ter seus atores atuais destituídos dos seus papéis para sempre .a fim de que o país se liberte desse lamaçal de corrupção

  14. LAVINIA GONDIM disse:

    Gostaria de fugir do lugar comum,do pleonasmo,mas não vou conseguir,então embarco na idéia geral.Não existe nada que eu possa lhe dizer que vc já não saiba.Vc é culto,atual,domina a arte de escrever,e o faz com paixão,escreve de forma digerível,assimilável,sem mimimis,seus textos são simplesmente fantásticos,abunda de contemporâneidade. Parabens Miranda,continue nos embriagando!

  15. Rodrigo Cortes disse:

    De tão espertos a elite adere cegamente ao chamamento do diretor da peça e mal sabem eles que o enredo é a destruição da própria classe. E se ao principio da cena, se fartam pelas benesses da corrupção, mal sabem que vão todos perecer por causa dela.

    Rodrigo Cortes.

  16. Além de Teatro, talvez você tenha esquecido de citar também Circo pois na época sentiamos prazer em assitir, hoje somos meros espectadores onde o Terrorismo está declarado, corrupção em abudância, tragédias e mais tragédias acontecendo onde somos os espectadores sem nada podermos fazer perante uma justiça que se diz cega em um país que a impunidade toma conta de tudo.
    Talvez sejamos os únicos culpados.

  17. Toni disse:

    Excepcional! Ainda mais quando a maioria da imprensa silencia!

  18. Alvesalces disse:

    “Ser grande, é abraçar uma grande causa”. E a grande causa atual é a luta pelo Brasil que nos arranca da assistência passiva para nos tornarmos atores enfrentando os vilões que roubam o patrimônio nacional e traem a Pátria.

  19. deaC disse:

    Vivemos mesmo é um grande tragédia, infelizmente protagonizada por atores medíocres, mas ainda assim capazes de levar a platéia a acreditar que estão vendo um grande espetáculo. Pobre povo brasileiro! há de chegar o dia em que viraremos às costas e os deixaremos falando sozinhos.
    Felizmente alguns de nós continuaremos abraçando a causa, que é ver um Brasil livre de arrivistas, demagogos, que só tem um único objetivo, encher os bolsos de dinheiro.