Guilherme Fiúza comenta

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Papo na cozinha

A conversa chegou à cozinha. Sarney afirmou que não foi eleito para limpar a despensa do Senado. Lula declarou que a imprensa é viciada em escândalo.

O Brasil está em consonância com a revolução bolivariana que se espalha pelo continente. Equador, Venezuela, Bolívia e até a Argentina estão preparando a mordaça aos meios de comunicação. A estratégia é criar um conselho fiscalizador da imprensa – uma espécie de zelador da voz dos governos populares. Nasce a liberdade oficial.

Sarney está indignado. A farra dos atos secretos do Senado não é assunto dele. Na verdade, se expressou mal. Quis dizer que é assunto só dele (e dos seus cupinchas) – e ninguém tem nada com isso.

É interessante observar, na dobradinha Lula-Sarney, o casamento do autoritarismo dos anos de chumbo com o autoritarismo sindical. Ambos têm o mesmo princípio: a imprensa é livre, desde que não entre na cozinha do poder. É a privacidade das mãos sujas.

O presidente da República explicou, no Porto do Rio, que quem não estiver gostando do que se passa em Brasília, que se manifeste na eleição de 2010. Se ainda assim ficar insatisfeito, que abra o bico em 2014. Enquanto isso, deixem os escândalos em paz.

É muito pura a democracia dos populistas. Nela, a imprensa é uma espécie de linha cruzada na comunicação dos eleitos com seu povo. Um ruído.

Se o tal filtro latino-americano de manchetes antibolivarianas sair do papel, não haverá mais esse problema. As lambanças na cozinha voltarão a ser assunto só do Sarney e do Lula – com suas barbas e bigodes de molho.

Aí, se alguém sentir cheiro de queimado, bata na porta com jeitinho e avise que o banquete está passando do ponto. Nada de escândalo.

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