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Forças do mal dominam o Senado

MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br

Exemplo de oposição à virtude e condenado pela opinião pública por representar tudo o que é contrário à virtude, à moral, ao direito e à justiça, Renan Calheiros assume – no momento em que as forças do mal dominam o Senado Federal – o Reino dos Infernos. É uma espécie de Cérbero da mitologia grega, o cão de três cabeças que guarda a porta do reino das trevas por onde as almas deverão passar a caminho do julgamento.

Calheiros não é um demônio comum, danoso e prejudicial às pessoas. Sua influência maléfica, quase sobrenatural, recai sobre a sociedade brasileira com resultados perniciosos e nefastos. Graças ao poder aumentado pela parceria com Lula da Silva, redobra a sua autoridade e robustece suas ações criminosas, como se viu no malefício causado pelos seus desprezíveis sabujos à Comissão de Constituição e Justiça, arrancando de lá dois ícones da política nacional.

A falange peemedebista dos gênios maléficos obedientes ao coisa-à-toa cometeu um crime de lesa-pátria destituindo os senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon da CCJ. Como todo ato indigno a perversidade foi executada com requintes de traição, na calada da noite, às vésperas de um fim de semana. Mas esta vileza não atingiu apenas os representantes de Pernambuco e Rio Grande do Sul; foi uma medida antinacional e antipopular contra a decência. E não foi única. É mais um golpe sujo de uma série de outros golpes sujos que acanalham o Congresso Nacional.

O cheiro de enxofre ficou nos corredores do Senado e fedeu mais ainda com a revelação de que o líder do PMDB, Valdir Raupp, é um crápula e que seus indicados para ocupar os lugares de Simon e Vasconcelos são Almeida Lima e Paulo Duque, moleques de recado de Renan. Nomes piores do que esses na bancada senatorial peemedebista não há. De Almeida Lima se fala que é presa de um dossiê onde aparecem cafetãos, escroques e pedófilos: onde se enquadra o sergipano?

Duque é por demais conhecido no Rio de Janeiro, onde mistura participação política e gangsterismo. Além de extremamente reacionário, está comprometido com atos ilícitos na Assembléia Legislativa e pela chantagem feita junto ao atual governador, Cabral Filho, para sair na sua chapa como suplente de senador.

A manobra sórdida e os patifes que dela participaram mostram que Renan é um insano. Capaz de colocar bombas no cinto e explodi-las com o plenário cheio se isso for necessário para não ser cassado. Sua inconseqüência não tem limites éticos e morais. Diante desse extremado terrorismo contra a República, até se explica o medo que Lula da Silva tem do chantagista alagoano, que pode usar provas acumuladas e irrefutáveis contra o PT-governo.

Definiu bem a situação a senadora Marisa Serrano, dizendo que “a destituição de Jarbas e Simon pode ser regimental, mas é imoral”, e deixou no ar uma pergunta para abalar a memória de Ullysses Guimarães: “O que leva um partido como o PMDB a tirar da Comissão de Constituição e Justiça dois senadores do porte de Simon e de Jarbas? Duas figuras históricas do partido?” Os senadores Cristóvam Buarque, Heráclito Fortes e Marco Maciel também protestaram, e Geraldo Mesquita, que se encontra no Exterior, pediu o afastamento de todos os cargos que ocupa indicado pela liderança do PMDB.

Esta revolta, porém, não deve se restringir aos meios parlamentares nem ao campo da política. Precisa de uma mobilização geral da cidadania para que amanhã não despertemos afundados no pântano da improbidade e do mal-caratismo. Está explícito que o Brasil não é Renan nem sua infame “tropa de choque”; o pior que poderá ocorrer é sermos obrigados a escolher entre essa gente abjeta e detestável e a organização criminosa que trama o terceiro mandato de Lula da Silva.

A meu ver, as duas bandas são podres e a desqualificação da chamada classe política na opinião pública se deve a elas. Assistimos uma tragicomédia. Temos tragédia com o apodrecimento das instituições republicanas com grave ameaça à democracia; a comédia seria divina sob os olhos de Dante Alighieri numa viagem mística pelo mundo virtual do inferno, do purgatório e do paraíso.

No Inferno do Senado, mergulhamos. Sua essência é o domínio satânico do mal, do desrespeito à pessoa humana, da brutalidade, da desfaçatez, do cinismo e da falta de vergonha.

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