Artigo das 4ªs feiras

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O “Mensalão” depende da vontade de julgar do STF

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Faz muito tempo a descoberta da fraude política do “Mensalão”, praticado por uma quadrilha (a acusação é do Procurador-Geral da República) que comprava deputados federais para compor a base governista na Câmara dos Deputados.

O substantivo “Mensalão” foi incorporado ao idioma como um neologismo e hoje, dicionarizado, é um verbete que significa um esquema de pagamentos mensais a parlamentares para votarem a favor de propostas do Executivo.

Não dá para saber direito como tudo começou. Uns dizem que foi a deputada goiana, Raquel Teixeira, do PSDB, quem revelou à imprensa (e depois ao Congresso) o recebimento de uma proposta financeira para mudar de partido; outros lembram que saiu de uma entrevista bombástica com a denúncia do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson.

Para a Folha de São Paulo, Jefferson disse que vigorava na Câmara dos Deputados um esquema de propinas no valor de R$ 30 mil mensais, para deputados do PP e do PL, fato que não podia provar, mas “seria de amplo conhecimento da Casa”. O deputado Miro Teixeira, líder do PDT, confirmou ter ouvido dele a menção sobre o “mensalão”.

Da mesma maneira como a criativa imaginação de Jefferson criou o termo “Mensalão”, também se popularizou a denúncia a um “carequinha mineiro”, pivô da maracutaia dirigindo o trem pagador…

O “Carequinha Mineiro” era o publicitário Marcos Valério de Souza autor de muitos trambiques na área política das Minas Gerais, com trânsito livre em vários bancos e sacador de consideráveis quantias nas agências do Banco Rural e do Banco do Brasil em Brasília e Belo Horizonte.

Uma ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, depôs testemunhando que presenciara tráfego de “malas de dinheiro” na agência de publicidade, conferidas pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

O fato estourou como uma bomba, repercutindo na opinião pública. Comprometidos pelas denúncias, dirigentes do PT foram pressionados. O tesoureiro Delúbio e o secretário-geral Silvio Pereira, pediram afastamento do partido, ocasionando a queda do presidente José Genoino.

A trinca fazia parte do grupo liderado por José Dirceu e o então presidente da República, Lula da Silva. Delúbio, particularmente, é amigo de longa data de José Dirceu e homem de confiança de Lula, que lhe deu uma procuração para movimentar a conta bancária de sua campanha, o que incluía fazer depósitos, saques e assinar cheques.

Dessa maneira, toda a cúpula petista se envolveu com o “Mensalão”. Corruptores e corrompidos somaram 38 réus num processo que tramita a quase seis anos do Supremo Tribunal Federal.

É inexplicável a morosidade do processo. Há desconfianças de protelação para favorecer a prescrição das penas do suposto crime; e a verdade é que criou nesses dias um imbróglio na Alta Corte com o ministro Joaquim Barbosa queixando-se do presidente Cezar Peluso, que lhe havia pedido o conteúdo integral do processo.

Diz Barbosa – relator do processo desde o começo – que desde 2007 os autos pedidos por Peluso estão “integralmente digitalizados e disponíveis eletronicamente”; o que é uma crítica velada ao Presidente e desmoraliza os outros dez ministros do STF, que não tomam conhecimento porque não se interessam.

Essa estranha omissão da Corte em tomar conhecimento das denúncias do caso de suposta corrupção política do governo Lula, obscurece a intenção de fazer justiça, e só tem justificativa o relator, ministro Joaquim Barbosa, com suas repetidas licenças médicas para tratamento de saúde.

A verdade está com um articulista da chamada “grande imprensa”, que escreveu que o Mensalão “não é um julgamento qualquer”. Realmente não é: são quase 40 réus e poderá atingir o ex-presidente Lula, dependendo da vontade de julgar do STF.

Uma resposta para Artigo das 4ªs feiras

  1. lgn disse:

    Há pelo menos 50 anos participo e observo a cena política brasileira. Nem de longe sou saudosista, mas percebo um processo de entropia na conduta de nossos homens públicos em todas as três instituições do Estado e nem de longe imagino que estamos próximos do fim do poço. Sempre me lembro das “profecias” de Ortega y Gasset sobre a chegada ao poder da massa, dos iletrados, dos ignorantes, dos néscios, contaminando a tudo e a todos. Vou me lembrar aqui de uma frase atribuída a Platão.
    “Para que tenhamos uma nação politicamente sadia, é preciso que as almas individuais sejam sadias”.