O EXEMPLO DE NÁPOLES
Coberta de lixo, numa das piores crises de sua história, Nápoles tem algo a ensinar ‘as cidades brasileiras. Num brilhante artigo, intitulado Nossa Fétida Cidade, a escritora Elana Ferrante mostra que o processo de decadência de Nápoles é longo. Uma das suas características é o domínio da coleta de lixo pelo crime organizado, que tem os seus próprios aterros. A conciliação com a máfia, a tendência a aceitar a desordem como algo inelutável, tudo isso acabou levando a cidade ao caos. O interessante no artigo é a intervenção do governo federal, enviando exército e tudo mais, mas esquecendo-se de que é impossível resolver em quatro dias o que foi gestado em décadas. Nos bairros controlados agora pela Máfia as ruas permanecem limpas. Nos outros, o lixo se acumula e o cheiro penetra em todos os cantos.
A ilegalidade floresceu por muito tempo, sob a cumplicidade da ineficácia municipal e a complacência de políticos. Afogada em lixo, sem novos aterros sanitários, para recebê-lo, Nápoles simplesmente mostra que o caos não é inventado de um dia para outro, mas, pelo contrário, cultivado todos os dias. O Rio precisava estudar o caso de Nápoles. E quantas outras cidades brasileiras não transigem com a ilegalidade, sem perceber que estão produzindo o desastre futuro?
Fonte: Fernando Gabeira
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