JUSTIÇA

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A pátria não é ninguém: são todos; e cada
qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação”. (Rui Barbosa)

Convivi a vida toda com advogados, muitos contemporâneos da velha Faculdade Nacional de Direito, além de outros adquiridos pela amizade ao longo do tempo e na convergência das idéias. Perdi de vista os que se tornaram juízes; nunca tive aproximação com um juiz.

Acompanho a magistratura superficialmente pelo noticiário dos jornais; só aprofundei-me na sua teoria mergulhando no mar esmeraldino, precioso, dos trabalhos de Rui Barbosa a que tive acesso. Neles, fui do patriótico “Oração aos Moços” ao bíblico “O justo e a justiça política”.

Li a “Oração” a conselho do meu pai quando ainda cursava o ginásio. Emocionei-me; e agora, passado dos oitenta anos, ainda encontro nela palavras proféticas para o Brasil de hoje: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

No “O justo e a justiça política” encontrei a pregação republicana ao culto da Justiça que levou Rui a analisar o quadro da ruína moral do mundo romano, com os Césares dirigindo o espetáculo da sua justiça degenerada, invadida pela política, e joguete da multidão.

Fui alertado, e creio que alertados foram também os advogados e juízes. A Justiça é representada por uma balança, mas não se confunde com o Comércio… A consciência cívica exige que se estabeleça uma distinção entre os tribunais e os shoppings.

O anedotário dos círculos jurídicos registra uma passagem de Tolstoi falando de um juiz que para anular ou confirmar as decisões a ele submetidas, abria aleatoriamente as páginas do processo e se ela trouxesse um número par, votava pela confirmação; se fosse ímpar, votava pela anulação…

Anedotas e lendas urbanas à parte sou uma pessoa que levo a Justiça a sério, mesmo que tenha sido violada uma vez ou outra; e confio em juízes até mesmo naqueles cuja nomeação de favor não transmita saber jurídico pela tinta da caneta do governante. A sua consciência deve falar mais alto do que o pagamento pelo patrocínio.

Acredito que a magistratura aprendeu com Platão, que “O juiz não é nomeado para fazer favores com a Justiça, mas para julgar segundo as leis”. Por isto espero a retidão dos juízes, diferentemente dos que simulando honestidade perguntam se há Justiça nesse País.

Estes céticos de conveniência a serviço de um socialismo de fancaria afirmam que só vão para cadeia ladrões de galinha, quem furta pote de margarina, pretos e pobres… Mas foram os mesmos que atacaram o ministro Joaquim Barbosa que julgou os lulo-petistas do Mensalão e levou à cadeia os hierarcas do partido.

Passando à vista os passadores de cheques sem fundo do bolivarianismo, afirmo-lhes que absolvição e condenação não são apenas palavras, e quem faz uso delas com honradez e patriotismo, como o juiz Sérgio Moro, não merece sofrer as agressões, hostilidades e até ameaças de morte da organização criminosa que ocupa fraudulentamente o poder no Brasil.

Os céticos, os pessimistas e os praguejadores que me perdoem, mas creio firmemente que o STF não livrará da punição os que roubaram o Erário, acometeram contra a Petrobras na compra ilegal de Pasadena, no sobrepreço das licitações e na parceria corrupta com empreiteiros desonestos.

Que os petistas torçam para que os ministros do Supremo livrem a alta hierarquia do seu partido, enquanto 93% dos brasileiros fazem sua a inesquecível peroração de Chaplin no último discurso do filme “O Grande Ditador”: “Juízes, não sois máquinas! Homens é o que sois!”.

23 respostas para JUSTIÇA

  1. marilene marques disse:

    Excelente! Sem nada mais a comentar!

  2. João Roberto disse:

    Belo texto caro Miranda Sá !

  3. Bravo, Miranda! Texto impecável. Tudo que a Justiça é e deve ser : isenta e independente.

  4. Maria Fátima da Mota disse:

    Magnifico, como sonhamos com essa justiça totalmente independente e agindo na proteção do bem maior

  5. Carol Ramos disse:

    Muito bom! Tomara mesmo que esses juízes sejam acordados pelo bom senso.

  6. Adalberto Day disse:

    Belo Texto Miranda!
    Precisamos sempre refletir sobre assuntos que nos interessam. Não podemos andar de olhos “vendados” como se apresenta muitas vezes a justiça para com o cidadão de bem. Acredito mas com “Abrolhos” na nossa justiça em todos os níveis. Existem os bons e os maus, como em qualquer atividade e assim a balança baixa muitas vezes de acordo com a conveniência e isso é fato. Esperamos que nestes últimos acontecimentos como exemplo a operação Lava a Jato, seja premiada com Justiça seja Feita e que o Brasil tome novos rumos. Agora a tal da delação premiada, pode ser ao mesmo tempo bom e ruim. Os caras para amenizar ou salva a pele, devem mentir conforme lhes convém e assim se torna uma bola de neve, um pondo no “rabo do outro”. Muda Brasil!
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

  7. Mônica Maria Ventura disse:

    Prezado Jornalista Miranda!
    Seus artigos são pérolas inolvidáveis!! Obrigada!!

    Lendo-o, recordei-me do grande Jurista Sobral Pinto, Heráclito Fontoura Sobral Pinto. Foi um homem tão cônscio dos seus deveres para com as Leis e a justiça que, sendo forte defensor dos direitos humanos, mesmo sendo também um católico de carteirinha, pois, frequentava as missas diariamente, o que significava que era também contrário ao comunismo, aceitou defender Luiz Carlos Prestes que fora preso após o levante comunista de 1935.
    Já em fim de carreira, este digno homem de bem, recusou o convite do Presidente Juscelino Kubitschek, que o convidara para assumir o posto de presidente do STF, apenas pelo fato de não deixar transparecer ao Brasil e ao mundo, que a defesa que fizera em benefício da posse do presidente JK, tivesse sido realizada, movida por interesse pessoal, ou pelo toma lá dá cá, tão comumente explorado na política brasileira, infelizmente!

    Porém, nada impediu o Dr. Sobral Pinto de participar, como lídimo cidadão, das Direta Já, subindo ao palanque no Comício da Candelária para defender as eleições diretas para a presidência da República e a Constituição Federal.

    Como vossa senhoria, eu também, prefiro acreditar em homens de bem que colocam a justiça acima dos interesses pessoais, refiro-me a homens como o ex-Ministro Joaquim Barbosa e o Juiz Sérgio Moro que se transformou no orgulho nacional, simplesmente, porque realiza com dignidade e honestidade seu trabalho, aliás, muito bem realizado sem jamais tergiversar!

    E para finalizar meu comentário que já se faz extenso, desculpe-me por isto! Cito o genial Poeta do Oriente, Khalil Gibran, quando no clássico “O Profeta”, um juiz aproxima-se e pede: “Fala-nos do Crime e do Castigo”. E lá pelas tantas, o Profeta ensina:

    “E vós que desejais compreender a justiça, como a compreendereis sem examinar todas as ações na plenitude da luz?
    “Somente então sabereis que o ereto e o caído são um mesmo homem, vagueando no crepúsculo entre a noite de seu Eu-pigmeu e o dia de seu Eu-divino”.

    Assim, Caro Miranda, evocando Platão, como em vossa citação, esperemos a ‘retidão’ dos juízes, cônscios de que estão em seus respectivos postos para julgar conforme a Lei.
    Paz e bem!!

  8. Mônica Maria Ventura disse:

    Errata: “Diretas Já”.

  9. Caro Miranda, independente da indicação ou patrocínio, é o juiz aquele que coteja direitos e deveres a todo cidadão de acordo com sua expectativa, satisfação e necessidade social.
    Essa é a difícil tarefa de Themis ou Justitia. Ser uma “deusa”, (justa), entre os homens.

  10. Belíssimas e sabias colocações, nobre colega. Creio sempre no bem comum e com a mesma crença, na honra do STF anseio pela punição dos acusados e já condenados pelos seus atos.

  11. Mônica Torres disse:

    Que texto comovente, Miranda. Que conteúdo rico e cheio de bravura… Parabéns, amigo! As menções cuidadosamente escolhidas, muito adequadas e atualizadas, embora extraídas de palavras distantes no tempo.
    Muito oportuna a observação sobre os juristas “cuja nomeação de favor não transmita saber jurídico pela tinta da caneta do governante”. À parte esses fracos de caráter, também acredito ainda na “justiça justa dos justos”. Aqueles que apesar de simpatias por idéias, abraçam a forma justa de julgar seguindo o princípio da verdade. Parabéns!

  12. Seus artigos me enchem de esperança. Que Deus continue te iluminando.

  13. Parafraseando Rui: “… Justiça! Entre tantos que te trezem na boca (ou na pena) sem te sentirem no coração…”

  14. vileite disse:

    Lindo , riquíssimo e bem elaborado texto parabéns !
    Espero que nossos juízes tenham integridade e senso de justiça , sem exceção ,para condenar todos os que dilapidam o Brasil .

  15. evandro disse:

    Uma síntese perfeita da atual situação do país, e ainda mais no trecho em que cita a “oração” que Deus, Buda, Alá, Moisés, Jeova seja la qual for a crença possa tocar o coração daqueles que tem o poder de fazer alguma coisa pela moralidade do nosso país, um forte abraço Miranda e mais uma vez parabéns.

  16. 162628 disse:

    Tornei-me incrédulo quanto à capacidade do STF realizar Justiça depois de sopesar sobre os resultados efetivos do Mensalão. Lula não foi incluído no polo passivo, embora chefe dos políticos processados. Minimamente em razão de ter o “domínio do fato”, é inadmissível que o PGR não o tenha incluído nas investigações e na denúnca criminal, e que também nenhum dos Ministros disso tenha reclamado. As penas do Mensalão também beneficiaram os maiores responsáveis pelo esquema de compra de votos. Os políticos ligados ao PT estão todos livres e soltos (um até delinquiu de novo e se encontra novamente em cana).Os não políticos pegaram penas muito maiores e vão ficar na cadeia por mais uns bons anos. Basta comparar a pena que uma simples funcionária de Marcos Valério tomou (12 anos) com a que Zé Dirceu foi agraciado (10 anos), para se ter a certeza de que o julgamento do mensalão foi realmente um ponto fora da curva. Lula e Dilma contribuiram decisivamente para que tenhamos outros pontos fora da curva nos julgamentos do STF. Para piorar, nem se pode contar com a OAB, hoje, para exercer seu papel de vanguardista na proteção de direitos.

  17. Tornei-me incrédulo quanto à capacidade do STF realizar Justiça depois de sopesar sobre os resultados efetivos do Mensalão. Lula não foi incluído no polo passivo, embora chefe dos políticos processados. Minimamente em razão de ter o “domínio do fato”, é inadmissível que o PGR não o tenha incluído nas investigações e na denúnca criminal, e que também nenhum dos Ministros disso tenha reclamado. As penas do Mensalão também beneficiaram os maiores responsáveis pelo esquema de compra de votos. Os políticos ligados ao PT estão todos livres e soltos (um até delinquiu de novo e se encontra novamente em cana).Os não políticos pegaram penas muito maiores e vão ficar na cadeia por mais uns bons anos. Basta comparar a pena que uma simples funcionária de Marcos Valério tomou (12 anos) com a que Zé Dirceu foi agraciado (10 anos), para se ter a certeza de que o julgamento do mensalão foi realmente um ponto fora da curva. Lula e Dilma contribuiram decisivamente para que tenhamos outros pontos fora da curva nos julgamentos do STF. Para piorar, nem se pode contar com a OAB, hoje, para exercer seu papel de vanguardista na proteção de direitos.

  18. celia mancini disse:

    Belo exemplo transmitido pelo Juiz Sergio Moro. Nem o STF pode achar texto mais primoroso que o seu. Que o sigam. Parabens

  19. Nádia Reis disse:

    Qd já havia me deliciado com um excelente texto, fui agraciada com a leitura do sei comentário, fantástico.

  20. Nádia Reis disse:

    enriquecedor! tomara sirva de inspiração ao nosso judiciário.

  21. VALDIR NEVES disse:

    Perfeito. Nossa última fronteira , pelo que se avizinha.

  22. dea disse:

    Muito bom texto Miranda, fico contente em ver que você tem esperança e acredita na Justiça. Eu tenho dúvidas. Será mesmo que ainda existem juízes em Berlim?

  23. Chico Dias disse:

    Miranda, mais uma vez me surpreendeu com belas palavras que acalenta meu espírito de justiça.