Artigo publicado n’ O Jornal de Hoje (RN)

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No caso Palocci tudo tem que ser contabilizado

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Muita gente boa torceu o nariz, e os petistas (pelo menos os que se dão comigo) desprezaram o comentário do governador da Bahia, Jaques Warner, dizendo que o ministro Palocci, multiplicando seu patrimônio por 20 em quatro anos, “chama a atenção”.

Foi um eufemismo de companheiro para companheiro, de muitos anos de vivência no PT. Da minha parte, levei Jaques Wagner a sério, sabendo que ele conhece Palocci, e que a sua opinião traduz o pensamento da sociedade civil organizada.

É certo que nem todos os participantes dessa simbólica “sociedade civil organizada” embora sabendo que Wagner está certo,  condenam a disparatada acumulação de riqueza em tão pouco tempo, sem ser ganho na loteria.

Vejamos o raciocínio lógico: mesmo com uma atividade empresarial agressiva, com profícuo conhecimento mercadológico e inteligência estourando os termômetros de medição de QI, é impossível não “chamar a atenção” o volume dos ganhos e a rapidez para concretizá-los.

São três palavras: “chamar a atenção”. Basta apenas isto para que se faça uma investigação justa de como o fato ocorreu. A defesa contra a busca da verdade não  apresenta dados objetivos, somente acusa o vazamento pela Prefeitura de São Paulo, a pressa do Ministério Público e a repercussão jornalística.

Ora, se houve vazamento ilegal, que se processe o responsável, e se o Ministério Público considera a necessidade de investigação, inquira-se. Quanto à imprensa, não dá para discutir a necessidade democrática da liberdade de investigar, analisar e informar.

Ainda mais do que a defesa discursiva de ministros, governadores e parlamentares, há uma “blindagem” política, quase bélica, sem impedir o inquérito e a informação dos fatos novos, das críticas diversas e o clamor crescente na opinião pública.

O que está em todas as cabeças e se ouve por toda parte é que em vez se ser defendido ou blindado, o Chefe da Casa Civil obriga-se a dar explicações convincentes.

Lá se vão mais de duas semanas de perplexidade, tumulto e hesitação, sem que tenha saído da boca de Palocci algo mais do que o mantra “foi tudo legal”, “foi tudo legal”, “foi tudo legal”…

A verdade é que nem tudo que é legal é honesto. Os “lobbies” são legais, mas de honestidade duvidosa; e as “consultorias” – como escrevi em artigo anterior – são legais, mas muitas delas usadas pelo crime organizado para lavar dinheiro sujo.

Dessa maneira, a defesa pessoal não convence e a blindagem palaciana vem se mostrando ineficaz, deixando a presidente Dilma em situação bastante difícil, arruinando a sua autoridade e complicando a atividade governamental.

O pedido de socorro a Lula agravou a situação. Embora indiscutivelmente astucioso e conhecedor da elite política e econômica, errou ao considerar que as lideranças empresariais acorreriam para preservar o seu antigo interlocutor, o que não ocorreu.

Por outro lado, Lula, egocêntrico, trouxe o peso da sua vaidade para o foco dos holofotes de Brasília, sobrepondo o criador à criatura, o que enfraqueceu sobremaneira a Presidente, impelida a mostrar-se em cena, mesmo sem convicção.
Para embaralhar e confundir as coisas, Dilma curtiu uma indigna derrota para o PMDB na votação do novo Código Florestal. Sua reação foi basbaque, anuviando seu perfil de candidata vendido pelo marketing como forte, gerencial, convicta e preparada para a Presidência.

A conjuntura levou a Mãe do PAC mostrar total distanciamento da realidade como ocorreu com Collor na época do impeachment, no lúcido dizer de Dora Kramer.

Diante disso, sentimos falta de uma oposição vocacionada a se opor… Um líder, ou uma frente de lideranças capazes de ações políticas junto ao povo e um relacionamento conexo com as corporações políticas e empresariais.

A Nação está cansada de assistir evidências sobre evidências de malfeitos, contravenções, desprezo pela ética e moralidade públicas e, acima de tudo da impunidade.

Enquanto “companheiros”, banqueiros e empreiteiros lamentam a queda moral do parceiro, é hora de substituí-lo. É preciso que este imperativo da consciência nacional chegue a Dilma, à Justiça e ao Congresso.

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