Wallace Stevens

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O REI DO SORVETE



Chame o enrolador de grandes charutos,

Aquele dobrado, e diga-lhe que bata

Os coalhos concupiscentes nas xícaras da cozinha.

Que as gurias zaranzem nos vestidos

Habituais, e os rapazes tragam flores

Em cartuchos de jornais do mês passado.

Que ser seja o final de parecer.

Só há um rei e esse é o rei do sorvete.

Tire da cômoda de pinho,

Que já perdeu três puxadores de vidro, aquele lençol

Que ela bordou um dia com caudas de pavão

E estenda-o de modo a cobrir-lhe o rosto.

Se um pé unhudo sair para fora, é

Para mostrar como ela está fria, como está muda.

Que a lâmpada afixe o seu filete.

Só há um rei e este é o rei do sorvete.


Wallace Stevens

(tradução de Décio Pignatari)


Wallace Stevens nasceu em 1879 em Reading na Pensilvânia. Estudou em Harvard. Graduou-se em Direito em Nova Iorque em 1903. Em 1916 mudou-se para Hartford, Conecticut, onde viveu o resto da vida. Exerceu jornalismo e advocacia.  Começou a escrever poemas ainda em Harvard,  mas a suas obras mais conhecidas surgem bastante mais tarde. Publicou o seu primeiro livro, Harmonium, em 1923.

Escreveu Sunday Morning aos 38 anos e já tinha mais de 70 quando publicou The Auroras of Autumn, um dos seus mais belos livros de poesia. Em 1954 ganhou o Nacional Book Award com o livro Collected Poems. Morreu no dia 2 de Agosto de 1955.

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