Jorge de Lima

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Inverno


Zefa, chegou o inverno!

Formigas de asas e tanajuras!

Chegou o inverno!

Lama e mais lama

chuva e mais chuva, Zefa!

Vai nascer tudo, Zefa,

Vai haver verde,

verde do bom,

verde nos galhos,

verde na terra,

verde em ti, Zefa,

que eu quero bem!

Formigas de asas e tanajuras!

O rio cheio,

barrigas cheias,

mulheres cheias, Zefa!

Águas nas locas,

pitus gostosos,

carás, cabojés,

e chuva e mais chuva!

Vai nascer tudo

milho, feijão,

até de novo

teu coração, Zefa!

Formigas de asas e tanajuras!

Chegou o inverno!

Chuva e mais chuva!

Vai casar, tudo,

moça e viúva!

Chegou o inverno

Covas bem fundas

pra enterrar cana:

cana caiana e flor de Cuba!

Terra tão mole

que as enxadas

nelas se afundam

com olho e tudo!

Leite e mais leite

pra requeijões!

Cargas de imbu!

Em junho o milho,

milho e canjica

pra São João!

E tudo isto, Zefa…

E mais gostoso

que tudo isso:

noites de frio,

lá fora o escuro,

lá fora a chuva,

trovão, corisco,

terras caídas,

córgos gemendo,

os caborés gemendo,

os caborés piando, Zefa!

Os cururus cantando, Zefa!

Dentro da nossa

casa de palha:

carne de sol

chia nas brasas,

farinha d’água,

café, cigarro,

cachaça, Zefa…

…rede gemendo…

Tempo gostoso!

Vai nascer tudo!

Lá fora a chuva,

chuva e mais chuva,

trovão, corisco,

terras caídas

e vento e chuva,

chuva e mais chuva!

Mas tudo isso, Zefa,

vamos dizer,

só com os poderes

de Jesus Cristo!



Jorge de Lima

Leia aqui a biografia do poeta

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