Poesia

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BLUSA FÁTUA

 

Costurarei calças pretas

com o veludo da minha garganta

e uma blusa amarela com três metros de poente.

pela Niévski do mundo, como criança grande,

andarei, donjuan, com ar de dândi.

 

Que a terra gema em sua mole indolência:

“Não viole o verde de as minhas primaveras!”

Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:

“No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!”

 

Não sei se é porque o céu é azul celeste

e a terra, amante, me estende as mãos ardentes

que eu faço versos alegres como marionetes

e afiados e precisos como palitar dentes!

 

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta

garota que me olha com amor de gêmea,

cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,

com flores os bordarei na blusa cor de gema!

 

Maiakóvski

(tradução: Augusto de Campos)

 

O Poeta

Vladimir Maiakóvski (1893-1930) é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.

Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária”, era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros  poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.

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