Poesia

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Arte Poética (*)

 

            A Charles Morice

 

Antes de qualquer coisa, música

e, para isso, prefere o Ímpar

mais vago e mais solúvel no ar,

sem nada que pese ou que pouse.

E preciso também que não vás nunca

escolher tuas palavras em ambiguidade:

nada mais caro que a canção cinzenta

onde o Indeciso se junta ao Preciso.

São belos olhos atrás dos véus,

é o grande dia trêmulo de meio-dia,

é, através do céu morno de outono,

o azul desordenado das claras estrelas!

Porque nós ainda queremos o Matiz,

nada de Cor, nada a não ser o matiz!

Oh! O matiz único que liga

o sonho ao sonho e a flauta à trompa.

Foge para longe da Piada assassina,

do Espírito cruel e do Riso impuro

que fazem chorar os olhos do Azul

e todo esse alho de baixa cozinha!

Toma a eloquência e torce-lhe o pescoço!

Tu farás bem, já que começaste,

em tornar a rima um pouco razoável.

Se não a vigiarmos, até onde ela irá?

Oh! Quem dirá os malefícios da Rima?

Que criança surda ou que negro louco

nos forjou esta joia barata

que soa oca e falsa sob a lima?

Ainda e sempre, música!

Que teu verso seja um bom acontecimento

esparso no vento crispado da manhã

que vai florindo a hortelã e o timo…

E tudo o mais é só literatura.

 

Paul Verlaine

(*) Composto em 1874, este poema foi considerado um manifesto simbolista quando surgiu dez anos mais tarde na coletânea Jadis et Naguère.

O Poeta

Poeta francês (30/3/1844-8/1/1896). Representante do parnasianismo, é também um dos líderes do movimento simbolista na França. Paul-Marie Verlaine nasce em Metz e estuda no Liceu Bonaparte, em Paris. Seus primeiros trabalhos, incluindo Poèmes Saturniens (Poemas Saturninos, 1866), são caracterizados pelo anti-romantismo parnasiano.

Casa-se em 1870, mas deixa a esposa e o filho para viver com o também poeta Arthur Rimbaud. Em 1873 atira no companheiro após uma briga e é condenado a dois anos de prisão. A coletânea Romances sans Paroles (Romances sem Palavras, 1874) é escrita na cadeia.

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