Poesia

Comentários desativados em Poesia
Compartilhar

DESEJO

 

Se eu soubesse que no mundo

Existia um coração,

Que só por mim palpitasse

De amor em terna expansão;

Do peito calara as mágoas,

Bem feliz eu era então!

 

Se essa mulher fosse linda

Como os anjos lindos são,

Se tivesse quinze anos,

Se fosse rosa em botão,

Se inda brincasse inocente

Descuidosa no gazão;

 

Se tivesse a tez morena,

Os olhos com expressão,

Negros, negros, que matassem,

Que morressem de paixão,

Impondo sempre tiranos

Um jugo de sedução;

 

Se as tranças fossem escuras,

Lá castanhas é que não,

E que caíssem formosas

Ao sopro da viração,

Sobre uns ombros torneados,

Em amável confusão;

 

Se a fronte pura e serena

Brilhasse d’inspiração,

Se o tronco fosse flexível

Como a rama do chorão,

Se tivesse os lábios rubros,

Pé pequeno e linda mão;

 

Se a voz fosse harmoniosa

Como d’harpa a vibração,

Suave como a da rola

Que geme na solidão,

Apaixonada e sentida

Como do bardo a canção;

 

E se o peito lhe ondulasse

Em suave ondulação,

Ocultando em brancas vestes

Na mais branda comoção

Tesouros de seios virgens,

Dois pomos de tentação;

 

E se essa mulher formosa

Que me aparece em visão,

Possuísse uma alma ardente,

Fosse de amor um vulcão;

Por ela tudo daria…

— A vida, o céu, a razão!

 

Casimiro de Abreu

 

 

O Poeta

 

 

Casimiro de Abreu (1837-1860), poeta romântico brasileiro. Dono de rimas cantantes, ao gosto do público, Casimiro de Abreu publicou apenas um livro, As Primaveras (1859). Filho de um rico comerciante, Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João (Rio de Janeiro) e cresceu no Rio, então capital do Império e centro cultural do país. Entre 1853 e 1857, estudou em Portugal.

 

A vocação literária, porém, suplantou a vida acadêmica. Em Lisboa, iniciou-se como poeta e dramaturgo. A peça Camões e Jaú estreou no teatro D. Fernando e, nela, o autor proclama sua brasilidade, as saudades dos trópicos e refere-se a Portugal como “velho e caduco”. De volta ao Brasil, dedicou-se à atividade comercial, com o apoio paterno. Mas definia este trabalho como uma “vida prosaica… que enfraquece e mata a inteligência”.

 

Morreu aos 21 anos, de tuberculose, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Seu poema mais famoso é Meus Oito Anos. Da segunda geração romântica brasileira, Casimiro de Abreu cultivava um lirismo de expressão simples e ingênua. Seus temas dominantes foram o amor e a saudade. Embora criticado por deslizes de linguagem e falta de embasamento filosófico, Casimiro de Abreu é admirado, justamente, pela simplicidade.

 

Alguns versos acabaram se incorporando à linguagem corrente como, por exemplo, simpatia é quase amor, hoje nome de um famoso bloco do carnaval carioca.

Os comentários estão fechados.