Arquivo do mês: abril 2017

GREVE

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Ninguém deixa de morrer só porque os coveiros fazem greve” (Saint-Clair Mello)

A pelegagem lulopetista convocou uma “greve geral” mascarada: seria para ser contrária à reforma da Previdência Social, mas a mobilização quis, na realidade, para manter o famigerado imposto sindical compulsório e defender o chefe, Lula da Silva, réu em ações criminosas contra o Erário.

Entre ataques e defesas da paralização, tive uma polêmica com um tuiteiro que se disse apartidário e sindicalista puro, mas combateu a reforma trabalhista e calou sobre o imposto sindical. Após algumas intervenções, surgiu um terceiro entre nós, alertando-me que meu interlocutor era um professor e teórico do socialismo.

Achei excelente, pois gosto de uma discussão em alto nível e, quando o opositor é culto, melhor ainda. Então tuitei perguntando ao Teórico, se ele havia lido o livro “Sindicalismo”, com escritos de Marx e Engels sobre o assunto.

O cara não deu resposta. Evidentemente não era socialista nem intelectual, já que não conhecia o livro de Marx e Engels. Vi que se tratava de mais um narcopopulista, dos que arrotam marxismo para facilitar o assalto ao Estado como fez o lulopetista Sérgio Cabral no Rio de Janeiro.

Esses falsos “sindicalistas” me levam a escrever este texto, por constatar que vivem o auge da alienação confundindo o princípio político com o princípio social.

Eles ignoram a origem dos sindicatos, nascidos entre os operários têxteis ingleses e suas das Trade Unions, nas próprias fábricas ou em associações culturais e educativas que instruíam sobre o direito de exigir melhores condições de trabalho. Segundo o estudioso Sérgio Pinto Martins as Trade Unions foram, sem dúvida, “[…] os embriões do sindicato”.

Do século XVIII para cá, viu-se os anarquistas assumindo a direção dos sindicatos, depois derrubados pelos stalinistas enfrentando um adversário igual, os fascistas. O modelo de sindicalismo fascista está na Carta del Lavoro, de Mussolini, que foi copiada por Hitler na Alemanha, e pelas caricatas ditaduras espanhola, húngara, portuguesa e romena.

Como a moda populista de hoje, as ditaduras se espalharam pela América Latina. No Brasil, o ditador Getúlio Vargas, simpático ao nazi-fascismo, copiou a Carta del Lavoro, na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – que vigora desde a década de 1930.

Além de superada pela evolução das relações de trabalho, CLT, cotejada com a Carta del Lavoro, que tinha apenas 30 artigos, traz detalhes idiotas nos seus 922 artigos; e. entre outras enganações, impôs um modelo especial de sindicatos, controlados por pelegos a soldo de um imposto sindical obrigatório.

Falar de sindicato nos leva à greve, por que é dos sindicatos que saem as greves. O verbete “greve”, dicionarizado, é a recusa do trabalhador em cumprir a jornada de trabalho até que o patrão atenda determinada reivindicação.

A origem da palavra “greve” vem de uma praça parisiense, Place de Grève, para onde acorriam os grevistas misturando-se à multidão que ocupava o logradouro. “Faire grève” significava, reunir-se na Praça da Greve.

Há dezenas de formas de fazer greve e uma delas, a “greve geral”, é o sonho dos que defendem a subversão da ordem, mas greve de funcionário público não é prevista, porque o Estado não é patrão; ‘se o servidor tem o direito de greve, o governo tem direito de cortar seu ponto’…

Tirando as escolas e os piquetes, a pelegagem mobilizou mais pneus queimados e balões flutuantes do que gente. A “greve geral” dos que não trabalham só existiu no noticiário “esquerdista” da Uol, BBC, Reuters e na mídia globalista e global…

Foi uma tentativa frustrada. Sem apoio dos trabalhadores e muito menos do povão, foi desmentida a afirmação de que “a oposição é sempre popular”. Ocorre, porém, que a oposição que temos não merece confiança: oferece somente um amontoado de roubos, conflitos psicológicos e traição à Pátria.

Para os grevistas da CUT, MST e UNE, restou uma piada do Tom: “Quero mais é que sua bunda pegue fogo e que os bombeiros estejam de greve”.

A MÃE DE TODAS AS BOMBAS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

        “Inventam uma bomba e depois ficam arranjando conferências para que ela não seja detonada”  (Max Nunes)

Duas manchetes garrafais (a gíria jornalística antiga usava este adjetivo para títulos com letras enormes) ganharam o que resta de imprensa escrita: uma se espalhou pelo mundo inteiro, a “Mãe de todas as bombas” que os EUA jogaram no Afeganistão; a outra ficou na mídia jabuticaba, a Delação dos Oldebrechts…

Os arsenais dos EUA e da Rússia estocam bombas especiais, muito grandes, que os norte-americanos batizaram de MOAB – “Massive Ordnance Air Blast” -, que trocando em miúdos é “explosão aérea de imenso poder”. A conhecida ironia que percorre o Pentágono apelidou-a de “Mãe de todas as bombas”.

Também explodindo no ar, com fogo e estilhaços para todos os lados, tivemos no Brasil as delações de Emílio e Marcelo Odebrecht, pai e filho, e o séquito de diretores da empreiteira. Enxeridamente resolvi chama-las também de Mãe de todas as bombas, por se seguir a pequenas explosões que apenas arranharam a chamada classe política.

Vejamos: Temos no Brasil um organizado e gigantesco sistema de corrupção, traçado e executado pela parceria público-privada comandada por Emílio Odebrecht e Lula da Silva, que trocavam de posição às custas de propinas na direção dos negócios do governo federal.

São tão grandes a abrangência e a proporção sistemática do assalto aos cofres públicos que ia da compra de vereadores – como ocorreu em Uruguaiana, no interior do Rio Grande do Sul -, até operações internacionais em nove países, Angola, Argentina Colômbia, El Salvador, Equador, México, Peru, República Dominicana e Venezuela.

Restam aparecer os EUA e o Japão, por causa das transações criminosas realizadas na compra de refinarias, em Pasadena e na ilha de Okinawa; em ambas as mesmas digitais do lulopetismo corrupto acionado por Dilma, no conselho da Petrobras e na Presidência da República.

Impõe-se a importância altamente negativa para a economia nacional e a comprovação da desfaçatez criminosa de Lula, o caso das obras em Angola, em prejuízo para as normas do BNDES e propina sendo paga em diamantes…

Até agora, devidamente divulgados em louvor à transparência defendida pelo ministro Edson Fachin, do STF, temos 76 inquéritos abertos, entre os quais 31 – ou 40,8% – tratam de cobrança de propinas. Quando redigia este artigo, tive a informação de que os delatores da Odebrecht apresentaram documentos para corroborar acusações feitas em delações premiadas.

Os investigadores da inteligência da PF dispõem de papeis diversos, contas e extratos bancários, comprovantes de transferência de dinheiro e contratos fictícios que simulavam um serviço prestado à empreiteira para camuflar pagamento de dívida de campanha.

A bomba explodiu com tamanha magnitude que escondê-los foi impossível para certos órgãos de informação simpáticos a Lula e Emílio. Jornalistas e colunistas famosos ainda não fizeram autocrítica por não ter antevisto o que ocorria no País antes da detonação da “Mãe de todos as bombas”.

O povo não ficou atônito. Informou-se, comprovando do que já desconfiava. A Nação como um todo pede uma severa punição para os culpados. Entretanto, os partidos picaretas tentam sensibilizar a Justiça a aceitar uso do dinheiro do Fundo Partidário para quitar as multas por mau uso do mesmo fundo.

E o pior, pelo cinismo descarado: A imprensa publica que estão à liderar essa Frente Única pela Corrupção – FUC, um crime de lesa-Pátria, Lula, FHC E Temer.  Nenhum deles merece perdão.

 

 

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SENHOR BISPO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandada@uol.com.br)

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem” (Agostinho, bispo e doutor da Igreja)

Podem anotar que estas mal traçadas linhas não visam criticar ou muito menos combater partidos, filosofias de vida, igrejas ou seitas religiosas. Trata-se apenas de uma censura a uma autoridade pública que está cometendo um abuso.

Levou-me a isto uma nota de jornal que li, informando que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi à África do Sul (a notícia não diz o que foi fazer) e lá foi a um culto na Igreja Universal, anunciado como Bispo.

Como sabemos, “bispo” (do grego antigo επίσκοπος ou episcopos; e do latim episcopus) quer dizer literalmente “supervisor”, de epi, fim/extremidade + skopos, vista, ou seja, “aquele que vê por cima, pelo alto, que supervisiona”).

No tempo anterior ao cristianismo, ser um bispo era assumir qualquer atividade administrativa nos âmbitos civil, financeiro, militar e judiciário.

A Igreja Universal, onde Crivella é bispo, foi fundada por Edir Macedo e tem uma organização semelhante às denominações tradicionais e como o sacerdócio evangélico admite mulheres, há o feminino “bispa”. A hierarquia tem também presbíteros e diáconos, os pastores equivalentes aos padres.

Bem, se Crivella viajou para a África do Sul como prefeito, suas visitas e reuniões deveriam ser realizadas a serviço da municipalidade carioca, para ter suas passagens e estadias pagas com o dinheiro público; se foi como bispo, que a sua igreja pague.

Faço esta cobrança por que lhe dei meu voto quando foi eleito. Confesso que foi por falta de opção; no primeiro turno, nenhum dos candidatos me atraiu pelo partido, postura ou presumível opção ideológica. O Índio da Costa – por ser frequentador do Tuitter – recebeu meu voto.

No segundo turno, A vs. B, fui induzido a escolher entre Crivella e Freixo. Não precisei matutar para excluir Freixo, como candidato do Partido Socialista do Leblon. Os autodenominados “revolucionários” deste partido foram muito bem classificados como “socialistas caviar”.

O próprio partido, dito “de esquerda, ” tem uma atuação que deixa a desejar por acobertar os vândalos Black-Blocs, atuar quase sempre como um puxadinho do PT e, cujos quadros estão fora da “lista de Janot”, são ótimos de discurso, mas, pelas entidades que dirigem são péssimos administradores.

Assim votei no Crivella, por não ter preconceitos de qualquer ordem, principalmente religiosos. Fui um eleitor entre os 1.700.030.000 votos contra 1.314950.000 que recebeu o seu adversário.

Foi por isto que critiquei Crivella, de pronto, quando insistiu em nomear um filho para a administração municipal, num gesto claro de nepotismo; que foi reforçado depois, dando um cargo para um sócio da filha. E critico-o, enquanto cidadão que paga impostos no município do Rio de Janeiro, sempre que julgar necessário.

Falei outro dia levantando a informação de que a guarda municipal e a própria urbana reduzem seus efetivos nos fins de semana e feriados, e que está sendo implantada no Jardim da Glória uma “cracolândia” e não me venham reclamar depois por que não será por falta de aviso. A Feira do Lixo que estava se insinuando na Rua do Catete foi reprimida pela Guarda Municipal, embora a sua presença não seja diária.

Enfim, imitando o grande Câmara Cascudo sinto-me um bairrista incurável. Ele escreveu: “Não sou nem federal nem estadual. Sou municipal”. É o meu caso. Como não tenho um vereador confiável, cobro do Prefeito, e deixo o bispo para seus fiéis.

NOÇOQUÉN

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

                                 “Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores” (Cora Coralina)

O título deste artigo, Noçoquén, parece esquisito, mas é bastante conhecido por antropólogos e indigenistas. Trata-se de uma reserva de plantas medicinais que os indígenas brasileiros, principalmente os amazônicos, mantinham e que foi estudado pelo cientista Curt Nimuendaju.

Uma espécie primitiva de jardim botânico que entra na minha narrativa para falar das Amazonas – mulheres guerreiras que em regime de matriarcado dominavam as tribos ancestrais dos Apiacá, Maué, Mundurucu e Mura. Pode ser lenda, mas também pode ser verdade, e a narrativa oral sobre essas guerreiras alcançou o princípio do século 20.

Lembrei-me de pesquisar sobre as Amazonas por causa de um fenômeno social da atualidade brasileira, cheio de razão e também de muita hipocrisia, denominado “feminismo”. Grifo “atualidade brasileira”, porque esse movimento vem de longe com suas heroínas e vitórias desde o século 19, com as mulheres inglesas lutando pelo direito de voto.

100 anos depois mulheres do Hemisfério Ocidental principalmente na Europa, ainda combateram (é de achar graça) para usar maiô de duas peças, mais tarde batizados de “biquínis”…

Nos fins do século 20 a História registra o que os pesquisadores e as próprias ativistas feministas denominam a “terceira onda”, o empenho das mulheres para conquistar a igualdade política legal e social com os homens.

Com exagerada e ruidosa participação de minorias, o movimento feminista embaralhou-se nas agitações pela liberdade sexual, desviando-se da causa original da manifestação pela igualdade de gênero.

Autodenominando-se “de esquerda” a facção diversionista assume atitudes agressivas a ponto de serem apelidadas de “feminazi” – por comparação com as tropas de choque hitleristas que aterrorizaram o povo alemão.

Além da linguagem violenta, as “feminazi” mostram total ignorância sobre a vida dos seus ídolos, pois Engels e Marx possuíram amantes; e, na sua fingida afetação exigindo a liberação total da sexualidade, defendem o islamismo, que relega a mulher a um plano secundário e pune com pena de morte o homossexualismo.

Felizmente, a má influência e a alienação só atingem uma ínfima minoria. As feministas autênticas se afirmam enaltecendo as lendárias Amazonas, que deixaram no Brasil os traços das primeiras sociedades humanas, do matriarcado com modo de produção comunitário e atividades comuns na colheita, na caça, na pesca e na guerra.

Nos dias de hoje, o papel da mulher trabalhadora recupera este respeito, participando de todas as atividades econômicas, culturais, políticas e sociais. Injustamente continuam sendo menos remuneradas do que os homens e ainda encontram portas fechadas para si.

Segundo o respeitável cientista e pesquisador Nunes Pereira, as antepassadas das mulheres trabalhadoras da atualidade eram responsáveis e guardas dos ‘noçoquéns”; as Amazonas os administravam com o conhecimento e a prudência dos pajés, colhendo, ensinando e receitando remédios fitoterápicos a quem deles necessitava.

É esta atividade respeitável, pela educação e a saúde do nosso povo, que esperamos das brasileiras patriotas, as nossas belas Amazonas…

 

 

O JUIZ

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Quatro características deve ter um juiz; ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.” (Sócrates)

Estudante de Direito, na tradicional Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil e membro da “Academia Boêmia” que o pessoal do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (CACO) promovia, eu participava nos dias 11 de agosto dos “pendura” – comes e bebes em restaurantes e bares – à custa da casa, o que muitas vezes virava caso policial.

Somente a pouco tempo descobri que no 11 de agosto comemora-se – além do Dia do Advogado, o Dia do Juiz…  Felizmente essas duas figuras só se confundem numa data, pois são, pelo menos teoricamente, não somente diferentes, mas antagônicos.

“Advogados” – escreveu Lênin, numa acepção que concordo em gênero e número – “nem os do partido”; enquanto nominalmente a palavra “juiz” que vem do latim, iūdex -dĭcis, literalmente ” é “aquele que julga”, de jus, “direito”, “lei”, e dicere, “dizer”.

Trocando em miúdos, juiz é um cidadão investido de autoridade pública com o poder/dever para exercer o julgamento dos conflitos de interesse que são submetidos à sua apreciação.

No Brasil, como em diversos outros países, o juiz faz parte de uma corporação – o Poder Judiciário – um dos três poderes da República. É um administrador da Justiça do Estado, responsável por declarar e ordenar o que for necessário para julgar procedente ou não a pretensão da parte que o provocou, e fazer jus ao direito pleiteado.

Vem de longe as provocações para que o juiz pratique uma justiça boa e perfeita. Na velha Grécia, Platão alertou: “O juiz não é nomeado para fazer favores com a Justiça, mas para julgar segundo as leis”.

No século passado, um pensador brasileiro, Roberto de Oliveira Campos, no seu livro “Na virada do milênio” escreveu: “A independência do juiz não é uma faculdade absoluta, poder fazer o que queira sem dar satisfações. O juiz não tem, nem pode pleitear, moral ou profissionalmente, nenhuma independência diante da lei. Ele é, tem de ser, pelo contrário, um servidor incondicional da lei.”

A conjuntura político-social no Brasil nos leva a reconhecer a situação pré-falimentar da República, com o Poder Executivo vacilante quanto a sua legitimidade, um Poder Legislativo em estado de putrefação pelas práticas corruptas de muitos dos seus membros, e um Poder Judiciário que nem sempre exerce a sua função com independência e fazendo favores a quem nomeia os juízes…

Há, porém, honrosas e dignificantes exceções, principalmente entre os magistrados que julgam as ações da Operação Lava Jato. Em diversas unidades da Federação assistimos à intervenção de juízes – na maioria jovens – que obedecem à Lei e julgam com autonomia para agir e decidir.

Em destaque, como não poderia deixar de ser, temos a “República de Curitiba” – na ação da Justiça Federal do Paraná tendo à frente o juiz Sérgio Moro, que pelos ataques que vem sofrendo dos investigados, na grande maioria comprovadamente corruptos, cresce na nossa admiração, respeito e o aplauso dos brasileiros honestos.

A intervenção sistemática da Lava Jato, através da Polícia Federal e dos procuradores da República é um tesouro guardado, com chave de ouro, por um juiz que honra a sua função e obscurece todos os que distribuem malfeitos em nome da Justiça.

 

MEDO

Ievguiéni  Ievtuchenko

 

O medo está morrendo na Rússia,

Como os fantasmas dos anos passados;

De vez em quando, no adro das igrejas,

Ainda pede esmola qual mendiga.

 

Mas eu me lembro quando ele era forte

E sua falsidade triunfava.

Em cada andar dos prédios se esgueirava

Sua sombra, em toda parte penetrando.

 

Tornava a todos nós obedientes;

Nas coisas todas punha o seu selo;

Fazia-nos gritar quando era a hora

De calar; e calar na vez do grito.

 

Isso tudo, hoje em dia, está distante.

Estranho hoje é lembrar como temíamos,

Em segredo, que nos denunciassem,

Que viessem bater à nossa porta.

 

E o medo de falar com um estrangeiro?

E o medo de falar com sua mulher?

E o medo ilimitado de ficar

Sozinho e em silêncio em meio à praça?

 

Ninguém temia andar no nevoeiro,

Nem enfrentar as balas na batalha.

Mas tínhamos o medo, tão frequente

E mortal, de falar conosco mesmos.

 

[…]

 

Eu queria que o medo que tivéssemos

Fosse o de condenar sem julgamento,

De degradar ideias com mentiras

E, com mentiras, exaltar pessoas,

 

O medo de ficar indiferente

Quando alguém sente dor, é perseguido,

o medo de não sermos destemidos

Quando pintamos ou quando escrevemos.

BARALHO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

                                     “Tem gente que a vida inteira, fica travando inútil luta com os galhos, sem saber que é lá no tronco que tá o coringa do baralho” (Raul Seixas)

São tão confusas e difíceis de entender as circunstâncias políticas que o Brasil atravessa, que me veio à cabeça o verbo transitivo direto “embaralhar” que, dicionarizado significa misturar as cartas do baralho, alterar, atrapalhar, confundir, criar desordem…

De embaralhar vamos a Baralho, cartas retangulares de cartolina ou papelão (hoje os chineses exportam os de plástico), que, segundo alguns historiadores teriam surgido na China e, com outra versão, de origem árabe.

O mais conhecido no Ocidente obedece ao padrão francês, que segundo dizem foi criado pelo pintor Jacquemin Gringonneur, sob encomenda do rei Carlos VI e se popularizou graças a tecnologia da fabricação de papel e da impressão.

O baralho francês tem 52 cartas, com 13 cartas de cada um dos quatro naipes, paus (♣), ouros (♦), copas (♥) e espadas (♠), com quatro cartas de figuras em cada naipe, mais um ás e um coringa.

O baralho é utilizado em vários jogos, que entre os conhecidos no Brasil, temos o Buraco, Burro, Canastra, Fedorento, Maumau, Naipe, Pife-pafe (“pife” ou “relancim”), Pôquer, Ronda, Sete-e-meio, Sueca, Truco e Vinte-e-um.

Há o baralho cigano, para prática advinhatória e com cartas especiais, também se usa para o jogo do Tarô.

No vicioso esquema político reinante no Brasil se misturam a Operação Lava Jato, o juiz Sérgio Moro, o MPF, a PF, condenações populares à impunidade, lista fechada, fundo partidário, contribuição sindical compulsória, lentidão no STF, embaraços que se somam às conspirações degeneradas para anistiar o Caixa 2.

As cartas aqui poderiam trazem novas figuras que não às atribuídas por Gringonneur, levando para o lado do mal as cartas de espadas, aziagas, segundo jogadores empedernidos, e as cartas de ouros para o lado de bom.

Os delatores seriam os azes e Sérgio Moro o Coringa, com a vantagem da judicatura ser um trunfo.  Em certos jogos, o trunfo é o naipe apontado pelo corte do baralho que passa a ter superioridade sobre os demais naipes.

Temos alguns trunfos entre os políticos que escaparam da malsinada praga que o lulopetismo espalhou nos poderes da República e juiz Sérgio Moro – O Coringa – se diferencia pela independência e sobretudo pela coragem de enfrentar os poderosos.

Robert Louis Stevenson escreveu que “Nem sempre a vida é um jogo com cartas boas/ às vezes temos que jogar também com uma mão ruim”. É o que assistimos na grande mesa verde em que jogamos, os patriotas brasileiros contra a organização criminosa que sem-cerimônia assaltou o País.

Os parceiros da corrupção começaram a perder o jogo quando Dilma – ocupando a presidência da República tentou garantir prerrogativa de foro privilegiado para Lula nomeando-o para a Casa Civil. Perderam essa mão. E perderam a primeira rodada com o impeachment.

A mais importante partida é jogada agora. O az das delações premiadas, Marcelo Odebrecht, pôs na mesa as cartas que envolvem Lula e Dilma, embaralhados com próceres peemedebistas e tucanos.

Por fim, estas denúncias levaram à união os envolvidos em falcatruas. Eles tramam, no Executivo, Legislativo e Judiciário uma escapatória. Cozinham, às escondidas, projetos infames, como o abuso da autoridade e a anistia ao Caixa 2.

Será o povo nas ruas que dará a última cartada!