Arquivo do mês: junho 2016

Augusto dos Anjos

A idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica …

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

 

 

Mário Quintana

Do amoroso esquecimento

Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

 

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PROTESTOS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Uma maravilha! O MinC sempre foi uma excrescência! (Lobão, compositor e intérprete)

Nem todos como Lobão – companheiro de Tuitter – festejaram a medida correta de juntar o Ministério da Cultura ao Ministério da Educação. Mas sua intervenção tem “tudo a ver”, por que Cultura e Esporte são inseparáveis da Educação como políticas de Estado.

Na temporada de protestos, grandes, reunindo milhões pró-impeachment, médios, de trabalhadores reivindicando melhores salários, ou pequenos, das minorias rebeladas contra isso ou aquilo, os insatisfeitos com o fim do Minc fizeram um protesto especial, de caráter internacional, seletivo, com as mulheres de vestidos longos e os homens de smoking.

Foi em Cannes, durante o famoso festival de cinema, na sessão de gala de lançamento do filme nacional “Aquarius”, que concorria à Palma de Ouro – o prêmio que “Cangaceiros” conquistou sob o aplauso dos brasileiros.

É curioso que o protesto mediterrâneo seria contra a fusão do Minc com o Ministério da Educação; mas as placas – em inglês e francês – foram contra o governo interino de Michel Temer, apoio a Dilma Rousseff e com a hilária denúncia de que o impeachment é um golpe…

Mais curioso ainda é que o filme Aquarius – que não foi listado nas homenagens – recebeu R$ 2,9 milhões autorizados pela Ancine através da Lei do Audiovisual, 13 dias antes do apagar das luzes do governo incompetente e corrupto de Dilma, a homenageada.

Muita champanhe e deslumbramento em Cannes antecederam à descoberta da fraude na Lei Rouanet que subtraiu ao cofre público R$ 180 milhões. Dos desvios criminosos, num país onde falta assistência médica, e as escolas estão em petição de miséria.

Até agora foram 14 assaltantes “cultos” presos pela Operação Boca Livre da Polícia Federal, entre eles vários ‘corretores’ e um ‘produtor cultural’, criminosos que atuavam intermediando os benefícios de isenção fiscal previstos na Lei Rouanet.

Para granjear os pixulecos, promoviam superfaturamento, usavam notas fiscais sujas de serviços e produtos fictícios, faziam projetos duplicados e contrapartidas ilícitas para empresas ‘incentivadoras’.

Com isto se vê que o suporte da ‘cultura lulo-petista’ está nas facilidades promovidas pelo governo corrupto. Caminhando e cantando em defesa da corrupção ocorreram por todo País manifestações de celebridades, sob os holofotes da TV-Globo, e atrás deles uma manada de aprendizes de atores, ex-bbbs, fanzocas imbecilizadas e candidatos a figurantes em filmes e peças teatrais.

Seria enfadonho enumerar os representantes de uma categoria promissora, os tais “produtores culturais” e os artistas decadentes, com cachês fixos no sistema Globo e/ou pendurados nas tetas oficiais. Entristeceu-me, porém, a presença de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivan Lins, milionários que não precisam de propinas para atuar. Não me surpreendeu Marieta Severo, cujo marido faturava R$ 90 mil como aparelhado na administração petista.

Espantou-me, sim, a intervenção da atriz Fernanda Montenegro, que sempre esteve acima da política, pois nunca participou de protestos pelo abandono governamental dos serviços básicos de Saúde, Educação e Segurança. Morando no Rio, jamais protestou contra a corrupção estadual e municipal, nem falou do tsunami da roubalheira federal.

Para defender a perversão do Minc e o uso criminoso da Lei Rouanet, Fernanda perfilou-se com os mamadores Luan Santana (R$ 4 milhões), Detonautas (R$ um milhão), Cláudia Leite (R$ 5,8 milhões), para Concertos fantasmas sem conhecimento do maestro José Carlos Martins (R$25 milhões), inda mais com Peppa Pig, Shrek, Mc Guimê e até o Cirque de Soleil que faturou R$9,4 milhões.

Sobre a multidão de mendigos que invadem nossas cidades, das crianças abandonadas, dos doentes desassistidos e dos 12 milhões de desempregados, nenhum protesto da “Diva” nem dos “artistas rouanet” defensores da cultura da corrupção.

Affonso Romano de Sant´Anna

CHEGANDO EM CASA

Chegando em casa
com a alma amarfanhada
e escura
das refregas burocráticas
leio sobre a mesa
um bilhete que dizia:

– hoje 22 de agosto de 1994
meu marido perdeu, deste terraço:

mais um pôr de sol no Dois Irmãos
o canto de um bem-te-vi
e uma orquídea que entardecia
sobre o mar.
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Manuel Bandeira

Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

 

asp

VOTO DISTRITAL

Trazendo o subtítulo “Este Me Representa” – o livro do economista e pensador político Antônio Figueiredo, chegou-me à mão por cortesia do autor; a quem agradeço duplamente: pela preciosidade do texto e o gentil oferecimento.

A linguagem escrita traz a simplicidade que agradaria ao seu epigrafado, o imortal poeta Olavo Bilac: Atende ao adulto sedento de informação, e à criança, com desenhos e gravuras para estimular a busca do conhecimento que lhe faça amar “com fé e orgulho” a nossa Pátria.

Valoriza ainda mais o importante e atual trabalho de Antônio Figueiredo a presença de dois conhecidos participantes das redes sociais; o jornalista Sando Vaia, falecido, mas ainda vivo na nossa memória pelas brilhantes intervenções político-filosóficas, e o professor José Carlos Bortoloti, mestre insuperável nas lições que oferece, por amor à cultura, no Tuitter.

O voto distrital é uma proposta que sobrevoa o desejo de aprimorar a representação política no Brasil, tão vilipendiada pelos partidos existentes, mantenedores do ‘status quo’; e desprezada pelos políticos profissionais corporativistas, fisiologistas e nepotistas.

A tese defendida por Figueiredo é clara e concreta; melhor ainda é a crítica contundente ao sistema vigente, com a análise acurada de situações insólitas. Mais além da avaliação da conjuntura, encontra-se propostas exequíveis, didáticas, fáceis de assimilar sem o rebuscado do ‘economês’, ‘juridiquês’ ou ‘politiquês’ que engrossam os chamados ‘livros técnicos’.

Folheei o “Voto Distrital” pensando em deixar para lê-lo mais adiante. Não resisti. Fui hipnotizado na abertura com um bico de pena de São Paulo em 1821 e a afetuosa Chamada “O cercadinho do meu Distrito”; daí sucedeu o prólogo autobiográfico, a Apresentação direta sem mi-mi-mi e o retalhamento federativo do Brasil.

Acompanhando esta obra de referência, Figueiredo anexou uma cartilha com notas explicativas sobre o voto distrital, um beabá para quem ainda não estudou o problema, embora revoltado contra o quadro eleitoral ainda dominado por facções ou grupos familiares sem autenticidade para nos representar.

(“Abro um parênteses para dizer que quando me aconselharem a ver um filme, não detalhem suas qualidades essenciais, a atuação dos personagens, os cenários e a trilha musical. Se me contarem o final, eu esgano!”)

Por pensar assim, creio que para penetrar na alma do livro e no pensamento vigoroso do autor teria que reproduzi-lo palavra por palavra, ou calar-me para sempre… rsrsrs.

Dessa maneira, aconselho aos interessados numa leitura recompensadora a comprar o livro na livraria de sua cidade, não percam; é leitura obrigatória para quem quer um Brasil melhor para nós, nossos filhos e netos.  MIRANDA SÁ 

Stephen Sondheim

Mande os bufões

Não é demais?
Somos um par?
Eu finalmente no chão,
Você no ar.
Mande os bufões.

Não é tão doce?
Bom pra você?
Um a deitar e rolar,
Um sem se mover.
Cadê os bufões?
Mande os bufões.
Bem quando eu
Parei de buscar,
Sabendo enfim
Que você era quem ia amar,
Entro no palco de novo
Com talento, meu bem,
Sei tudo de cor,
Mas não tem ninguém.
Gosta de farsa?
Culpe-me então.
Pensei que queria o que sabe que eu quero.
Nada, perdão.
Mas cadê os bufões?
Mande logo os bufões.
Não liga, aqui estão.
Não é demais?
Coisa sofrida,
Perder o pé a essa altura
Da minha vida?
Onde estão os bufões?
Tem que haver bufões.
Para o ano, querida.

 

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Dylan Thomas

Não entre na noite pra se render

 

Não entre na noite pra se render,
Velhice é pra arder até o fim,
Lute, lute para a luz não morrer.

O sábio aceita bem o escurecer
Mas tem palavras de luz e por fim
Não entra na noite pra se render.

O justo, que ao partir irá sofrer
Porque não lhe coube um melhor jardim,
Luta, luta para a luz não morrer.

O rude que põe o sol pra correr,
E vê tarde demais o que é ruim,
Não entra na noite pra se render.

O sério, ao pé da morte, já sem ver,
Acesos os olhos, alegre enfim,
Luta, luta para a luz não morrer.

E você meu pai, triste de se ver,
Amaldiçoe, abençoe-me assim.
Não entre na noite pra se render,
Lute, lute para a luz não morrer.

 

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O DELATOR

MIRANDASÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A corrupção dos governantes quase sempre começa pela corrupção dos seus princípios” (Montesquieu)

A esperança pregada pelo Partido dos Trabalhadores na primeira campanha que elegeu Lula da Silva não passava daquele inseto ortóptero da família das “Tettigoniidae”, primo dos grilos, de costume disfarçado, cuja picada urge e incha a pele.

Na crendice popular se diz que a “esperança” dá sorte e traz dinheiro, mas da política brasileira só trouxe sorte e dinheiro para a família Lula da Silva e aos hierarcas do PT, a pelegagem que chegou ao poder e os aliados corruptos.

Entretanto, de volta ao passado, a vitória de Lula veio cercada de expectativas para a melhoria de vida dos trabalhadores, mas resultou numa aliança espúria dos picaretas do Congresso Nacional, empreiteiros e banqueiros, transformando o governo federal numa Cleptocracia arrogante e antidemocrática.

A roubalheira institucionalizada transpareceu e se difundiu quando passou a ser administrada pelo fantoche de Lula, Dilma Rousseff. O Brasil assistiu toda espécie de manobras, disfarces e ilegalidades nos assaltos dos lulo-petistas à coisa pública.

E aí se revelou que as conquistas dos trabalhadores se resumiram a propaganda enganosa, discursos demagógicos e falsas promessas na execução de uma “política social” de distribuição de benesses para um colégio eleitoral de parasitas.

Até o “empréstimo consignado” para os funcionários públicos, aposentados e pensionistas carreou vantagens para o partido e para o bolso de ministros e senadores do grupo autodenominado “de esquerda bolivariana” …

Em boa hora, graças à pressão popular que levou 10 milhões de pessoas a se manifestar em todo País, Dilma, a marionete de Lula, está sendo julgada política e juridicamente no Senado Federal num processo do impeachment.

O povão despertou ao tomar conhecimento das inomináveis bandalheiras descobertas, primeiro no processo do “Mensalão” e agora trazidas escandalosamente pela Operação Lava Jato, conduzida pelas mãos limpas da Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro.

Neste cenário de indignação e ruidosas denúncias sobressai-se a figura do delator. Sob a coordenação de Moro apoiada na ação convincente e transparente do MP e PF a delação premiada foi adotada.

Nada mais republicano do que a Lei que rege a delação premiada impondo que nenhuma sentença condenatória terá como fundamento somente as declarações de agente colaborador (Lei 12.850/2013 artigo 4º, §16). No caso da Lava Jato sobejam agendas com anotações, memórias não voláteis de computadores, gravações telefônicas, testemunho, notas de compras e até recibos assinados!

Diretores da Petrobras, donos e executivos de empreiteiras, funcionários públicos graduados e até detentores de mandatos eletivos envolvidos em esquemas de corrupção “abriram a boca”. No momentoso caso que envolve o fundador do PT e ex-ministro de Lula e Dilma, Paulo Bernardo, temos a citação de cinco delatores!

Entre os que denunciam Paulo Bernardo (e à sua mulher, senadora Gleise Hoffman) aparece o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que fala da doação de R$ 1 milhão para a campanha de Gleise ao Senado. Corroborou nesta transação criminosa, outro delator, Alberto Youssef.

Acode também a delação do ex-senador Delcídio Amaral, com uma bomba: a existência de um órgão mantenedor das finanças de Paulo Bernardo e das despesas do mandato de Gleisi, a Consist Software.

Outro delator, Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccin, confirmou repasses de dinheiro para a campanha de Gleisi a pedido de Alberto Youssef; segundo ele, pelo menos R$ 7 milhões teriam sido repassados ao escritório do advogado de Bernardo-Gleisi.

Finalmente um petista de carteirinha! O ex-vereador Romano, codinome Chambinho, preso durante a 18ª fase da Operação Lava Jato, afirmou na sua delação ter repassado os dólares da cueca, e detalhou o esquema do qual Paulo Bernardo se beneficiava com o crédito consignado, desencadeando a Operação Custo Brasil – a Pixuleco 2.

Importante é registrar que tudo traz “provas incontestáveis”. Mesmo assim, senadores se revoltaram com a busca e apreensão determinada pela Justiça no apartamento do casal. Casa de parlamentar é santuário para abrigar bandidos?

 

Jalal ad-Din Muhammad Rumi

Morri como mineral

Morri como mineral,
e tornei-me planta.
Morri como planta,
e surgi como animal.
Morri como animal,
e sou humano…

Por que ter medo?
O que perdi ao morrer?

Mas de novo vou morrer como humano,
para voar com os anjos, abençoado.

E mesmo como anjo, terei de morrer.
Todos perecem, menos Deus…

Quando eu tiver sacrificado
a minha alma de anjo,
me tornarei
o que a mente sequer concebe!

Ah! Que eu não exista!
Pois a não-existência proclama,
como um órgão,
que para Ele voltaremos.