Artigo

QUERIDOS PETS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Temos colegas no “X” que acham graça quando trocamos fotos e filmetes de gatos e cachorros que correm na Internet. Da minha parte vejo nestes “Pets” um dos complementos maravilhosos que a domesticação dos animais nos deu. Uso a palavra Pet, criticada pelos xenófobos antiamericanos, mas vencedora e generalizada entre nós.

É dicionarizada como substantivo masculino para designar animal de estimação; é curiosa a sua etimologia, emaranhada do latim para cá. Vem diretamente do inglês, mas teria sido herdada do francês “petit” que significa pequeno, e teria origem latina “petito/pittinus”.

Nos imperiais Estados Unidos a palavra Pet é consagrada; os franceses chamam de “animaux de compagnie”, que, em português, significa animais de companhia. No Brasil, adotou-se indiscutivelmente Pet, de onde se deriva Pet Shop, loja que vende produtos para animais.

Nossos indígenas têm para os bichinhos domésticos o nome de “Xerimbabo”, que em tupi significa “coisa muito querida”, este termo ainda é coloquial entre os habitantes dos estados do Norte; e o costume de tê-los familiarmente é sempre solicitado por crianças.

O politicamente correto, traz uma exceção no seu besteirol, adotando a expressão “Tutores” para o que antigamente chamávamos “Donos” dos xerimbabos…. Mas, por outro lado, trouxe a condenação para a domesticação de animais silvestres, uma idiotice nascida por falta de conhecimento do mundo.

Além dos cachorros e gatos que nos fazem companhia e que interagem conosco, é costume pelo mundo afora a criação de outros animais com a mesma finalidade; na África continental adotam avestruzes, camelos e cabras, em Madagascar, lêmures, na Ásia elefantes, cobras e macacos prego, na Austrália, kangurus, e, na China, pandas…

Na América central é comum criar-se camaleões e, por herança indígena, adotamos a companhia de alguns pássaros canoros, papagaios e saguis. Peixes de aquário estão presentes em todos os países; e o meu pai tinha uma estima especial por um jabuti que trouxe do Pará.

Quando morei em Natal, além de cachorros, gatos e papagaio, mantive e cuidava também de dois sapos cururus e um viveiro de mosquitos melíferos.

Considero a convivência com o animal de grande responsabilidade. Eles precisam de cuidados muito além da alimentação; devem ser observados como a melhor forma de resguardá-los de problemas com insetos, viroses e enfermidades. Meu filho  Henrique observou que um dos seus cachorros passou a beber muita água e levando-o à Clínica Veterinária, constatou-se que estava com diabetes….

Nos grandes centros, onde se goza de boa assistência médica especializada, aparecem problemas a corrigir. Por exemplo, criar cachorros em apartamentos é complicado, por que precisam necessariamente sair à rua e o cuidador deve recolher as suas fezes por educação. Vi numa Praça de São José da Costa Rica uma frase que mandei para a Prefeitura do Rio, mas fiquei sem resposta. É perfeita: “Ellos hacen por necessidad, usteds limpan por obligación”.

Com a minha mulher – que os adora – tutoramos dois gatos: Lennon e Ringo. Graças a observação deles, entendemos plenamente o porquê dos antigos egípcios os adorarem como deuses, e os celebramos Maomé por uma história que ouvi:

“O profeta estava em meditação e um gato se enroscou na manga de sua túnica e dormiu profundamente. Chegada a hora de rezar e Maomé cortou a manga com uma tesoura para não o acordar; como o gato pareceu sorrir-lhe, acariciou sua cabeça com a mão e concedeu-lhe o privilégio de somente cair sobre as próprias patas…”

Acho que quem não gosta de gato são aqueles que nunca os observaram. O poeta Ronsard deixou-nos um pensamento à reflexão: – “Os gatos são dotados de um espírito profético e os egípcios faziam muito bem divinizando-os”.

Ocorre conosco aqui em casa: quando um de nós, eu ou minha mulher adoecemos, sempre tem um que se aconchega na cama com o enfermo.

CRUZADAS & CRUZADA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Não tem razão o colega do “X” que com uma msg criticou-me pelo que considera antireligiosísmo nos meus artigos e crônicas; eu poderia responder-lhe pela mesma via, mas preferi fazê-lo publicamente no Blog.

Assumo os comentários com dúvidas e reprovação sobre as fantasias do Antigo Testamento, desacreditando que Matusalém tenha vivido 969 anos, na lenda de Adão e Eva (a não ser como metáfora) e que o príncipe egípcio Moisés abriu as águas do Mar Vermelho e tenha conversado com Deus acocorado diante de uma sarça ardente.

Isto, para mim, não é ser contra a religião. Pelo contrário, poucos defendem a liberdade religiosa como eu, que desde a pré-adolescência estudo as diversas crenças adorativas, no correr da História da Humanidade.  Até já pensei em escrever um livro sobre elas.

Conheço-as desde o animismo primitivo à dualidade do mazdeísmo na antiga Pérsia, do politeísmo nos primeiros impérios da Antiguidade, das manifestações orientais e do monoteísmo judaico-cristão.

Defensor convicto da liberdade de crença, não me furto, porém, de criticar desmandos praticados em nome de Deus; denunciando sempre a hipocrisia piedosa e o fanatismo estúpido e xenófobo. Faço-o com base em pesquisas históricas de boa origem; dos muitos estudiosos que através dos tempos mostram a adulteração do cristianismo primitivo ao se assumir como Catolicismo, religião oficial do Império Romano.

… E foi pelo imperialismo que se formou no Ocidente uma nova concepção religiosa por sua organização burocrática copiada de antigos cultos, principalmente do mitraísmo, e por coroar o humilde Jesus de Nazaré em Rei dos Reis…

Uma vez poderosa, a Igreja Católica, Apostólica e Romana assumiu historicamente horrores praticados. Quem há de negar a violência imposta na criação, exaltação e desempenho das Cruzadas? Das referências que se tem deste desvario movido para libertar a chamada “Terra Santa”, temos o fundamento do antissemitismo e antiislamismo ocidentais.

Sobre as cruzadas, encontrei um texto do escritor ítalo-argentino Pitigrilli, que não assino embaixo, mas o levo em conta para as minhas análises. Saiu no livro “O Sacrossanto Direito de não Ligar” o comentário intitulado “O malogro total das Cruzadas” que não lograram cumprir seu objetivo de libertar santo sepulcro dos muçulmanos.

A Primeira Cruzada, criada pelo papa Urbano II em 1095 para tornar os cristãos inimigos dos muçulmanos, a História registra que esta expedição reuniu “duzentos e sessenta mil maltrapilhos, esfomeados, egressos das galés e prostitutas, conduzidos por nobres feudais que tiveram o propósito de conquistar cidades orientais para si; mas o Santo Sepulcro ficou onde estava, tendo no entorno seis milhões de cadáveres.

Pittigrilli mostra que sem qualquer devoção e humanismo as Cruzadas trouxeram vantagens; para a sua formação, foram recrutados todos os aventureiros da Europa; e esses malfeitores encontraram de passagem casas para saquear, mulheres indefesas para ultrajar e gente inocente para exterminar.

E o resultado foi pior, vendo na Palestina a convivência pacifica entre judeus e árabes, os cruzados, acusaram os primeiros de “crucificar Jesus Cristo” e os outros demonizados como adeptos do “infiel” Maomé.

Entre suas consequências, surgiu a caça às bruxas, a brutal repressão contra os perseverantes seguidores das antigas religiões; uma manifestação fanática que não se restringiu aos druidas e xamãs, mas voltou-se também contra os chamados “heréticos”,  críticos dos dogmas e dos costumes licenciosos do papado.

Esta perseguição insana proporcionou em 1233 a criação da Inquisição pelo papa Gregório 9º, batizada de “Santo Ofício”, que nada teve de santo; pois foi uma ação demoníaca, cruel e desumana, comparável ao que o nazismo fez no século passado.

Há quem ignore, e é bom dizer que esta ingerência genocida não se limitou aos católicos romanos; teve também a participação de protestantes, como se viu no suplício sofrido por Calvet ordenado por Calvino, que exigiu lenha verde na fogueira que queimou o condenado, “para que ele sofresse mais”.

Com esta descritiva vem a minha adoção ao princípio de que perseguir, torturar e matar em nome de qualquer religião é crime hediondo condenável; por isto movo a minha “cruzada” para condenar as guerras religiosas, por serem o exemplo mais do que perfeito da negação de Deus.

DA JUSTIÇA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Fica difícil desenvolver o tema sem separar duas justiças, a Justiça Aplicada, dos tribunais, órgãos burocráticos de governo composto de juízes e promotores nomeados para interpretar a Lei; e a Justiça Teórica, segundo Adeodato (que os acadêmicos de Direito conhecem), “a virtude moral que rege o ser espiritual no combate ao egoísmo biológico, orgânico, do indivíduo”.

Na Justiça Aplicada, a apreciação de processos de partes em litígio, casos e pessoas, é sempre uma balança que, em tese, deveria manter o equilíbrio entre as pretensões e interesses conflitantes na vida social da comunidade.

A Justiça Teórica foi aquele passo à frente para a civilização, criada dos primeiros impérios da Antiguidade. O exemplo disto está nos contos das Mil e Uma Noites, que levou o lendário califa Harun al-Rashid à ficção.

O Califa, de acordo com historiadores, é o símbolo da Era de Ouro Islâmica. Reinou de 786 e 809, quando a Europa vivia mergulhada na Idade Média, e o Islã atravessava uma era marcando economicamente a fartura de bens materiais e o desenvolvimento cultural nos campos da Arquitetura, da Ciência com a pesquisa e tradução para o árabe das grandes obras do grego clássico, hindu e persa.

Com uma formação intelectual vasta, abrangendo economia, geografia, história, música, poesia e religião, Harun fundou a lendária biblioteca Bayt al-Hikma (“Casa da Sabedoria”) em Bagdá, e lá costumava imitar Salomão, presidindo julgamentos.

Nas Mil e Uma Noites fictícias temos a história de que ele sonhou que lhe apareceu um anjo e levou-o para o céu e lá chegando disse-lhe: – “Califa, concedeste liberdade a nove prisioneiros a pedido de amigos e familiares, mas restou um na prisão; Alah intervém por ele”.

No amanhecer do dia seguinte, Harun al-Rashid chamou o Vizir, e perguntou se havia alguém na prisão. – “Há um peregrino que foi preso junto a nove malfeitores e se diz inocente” falou o ministro.

– “Traga-o a minha presença”…. E quando o prisioneiro chegou, o Califa ordenou que falasse, ouvindo dele a história de que os policiais haviam perseguido uma quadrilha de dez indivíduos, mas um escapou e eles temeram ser acusados de ter facilitado a fuga; então prenderam-no para completar a conta, e ele que não teve quem apelasse por ele.

A historieta das Mil e Uma Noites conta que Harum sentiu a sinceridade dos inocentes no rosto e na voz do preso; ordenou a sua soltura, oferecendo-lhe um café da manhã com frutas, leite, mel, pães e queijos. Depois mandou-o banhar-se e receber roupas adequadas para conviver na sua corte para onde foi convidado.

A Justiça do esplendoroso reino de Harun al-Rashid teve uma intervenção divina para ser cumprida libertando um preso sem culpa.

Aqui no Brasil, nos dias atuais, os juízes não ouvem Deus, adoram o Bezerro de Ouro, como se vê, assistindo-se envergonhadamente um ministro do 5TF, Dias Toffoli, sentenciar em defesa dos corruptos e corruptores condenados pela Lava Jato.

Não há qualquer explicação para isto, a não ser o acumpliciamento de quem esteve envolvido nas tramoias do lulopetismo com as empreiteiras, tendo sido denunciado como usufruidor de propinas da Odebrecht sob o codinome “Amigo do Amigo do Meu Pai”.

Assim temos a Justiça dos Juízes, que vem degradando o conceito de Justiça, com ardis como o que permitem cônjuges e parentes de magistrados advogarem causas que eles julgam; e, no caso insólito de Toffoli, foi a mulher dele a autora da defesa.

A revoltante decisão monocrática de suspender o pagamento das multas reconhecidas pelos corruptos e corruptores exige a convocação do coletivo para derrubá-la. Não o fazendo o presidente da Corte passa a ser cúmplice da Injustiça.

“O QUE FAZER?”

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O título, direto e bastante significativo, já foi usado distintamente no campo cinematográfico e na literatura marxista. As duas vertentes têm o sentido único da definição prática e teórica.

No cinema temos uma interessante combinação de drama e comédia no filme “The Angriest Man in Brooklyn”, exibido no Brasil e Portugal como “O que fazer?”. Teve a direção de Phil Alden Robinson com excelentes atores, Robin Williams, Mila Kunis, Peter Dinklage e a premiada coadjuvante, a atriz Da’Vine Joy Randolph.

A sinopse do filme relata a situação em que um médico revela ao seu paciente, portador de uma paranoia agressiva, que ele tem apenas 90 minutos de vida, sugerindo que deveria se desculpar com as pessoas com quem tenha agredido nos seus últimos momentos de vida.

“O que fazer?” é também o título de um livro que Vladimir Ilyich Ulianov – o revolucionário russo Lênin –, que em 1900 serviu de base para a aliança com Georgi Plekhanov, e a criação do jornal Iskra para divulgar o programa que uniu todas as correntes anti-czaristas.

A teoria exposta por Lênin traz a crítica ao “sindicalismo estreito” (trade-unionismo) e o acervo combate ao economicismo dos reformistas. O livro foi usado mais tarde para defender os insustentáveis desvios stalinistas.

Quem, no correr da vida, nunca se fez a pergunta “o que fazer?”. Até mesmo nas pequenas dificuldades do cotidiano, busca-se uma saída para a normalidade.

Embora com a idade avançada, preocupa-me hoje a possibilidade de deflagração de uma nova guerra mundial. Sei que as novas gerações, mesmo entre os inconformistas, não sentem o mesmo que eu, e não lhes importa o que os mais velhos pensam.

Para eles, eu gostaria de lembrar uma coisa antiquíssima da filosofia grega, em que Aristóteles e Hipócrates julgavam que a juventude se estende aos 35 anos e até os 40 anos o homem está apto a ir para guerra.

Tal pensamento não mudou muito daquele tempo para os nossos dias. A convocação para a batalha será dos jovens.

Vejam que os belicistas – não são poucos – aplaudiram o presidente francês Emmanuel Macron ao declarar numa entrevista que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) analisou a situação ucraniana e não descarta o envio de soldados para enfrentar os russos.

A resposta do Kremlin foi imediata, reagindo contra tal possibilidade e declarando que o envio de contingentes dos países da OTAN à Ucrânia, “se é uma probabilidade, é igualmente a inevitabilidade de um conflito direto”.

Esta reação levou vários membros da Aliança a negar planos de mobilização de tropa e muito menos envia-las para a zona de conflito. Nos alegra a participação do chanceler alemão Olaf Scholz nesta posição, apoiado pela Espanha, Itália, Países baixos, Polônia, Reino Unido e República Tcheca.

Em campanha eleitoral, Joe Biden, em nome dos EUA disse que o país não tem pretensão de se envolver diretamente na contenda com a Rússia. Ainda bem. Esta posição (ou recuo?) é um passo importante para desanuviar as ameaças de uma 3ª Guerra, porque na Era Atômica ela representaria o extermínio da civilização.

Então, pensando n’ “O que fazer”, respondo que para mim, é a defesa da Paz a todo custo, lembrando o gênio profético de Einstein que alertou: “Depois de uma 3ª Guerra, a próxima terá uma nova arma secreta, a atiradeira de arremessar pedras’.

Sem sombra de dúvida. Imaginemos uma volta à Idade da Pedra e que com esta tragédia a Humanidade teria que se reinventar.

ROLETA RUSSA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Nunca me esquivo de dar um passeio pelo Planeta e de divulgar notícias internacionais; faço-o com a mesma disposição de independência e, portanto, com isenção e respeito pela autodeterminação dos povos. Irrita-me, porém, ver pessoas que se envolvem nos assuntos internos de outros países até torcendo em suas campanhas eleitorais.

Assim, intitulando este texto de “Roleta Russa” não me refiro à Guerra da Ucrânia, nem a Vladimir Putin, o presidente de Todas as Rússias.

O que trago é a preocupação pela inadvertência das pessoas que dão pouco valor a vida, sem ter a consciência do valor incalculável da existência. Este pensamento leva-me ao jogo de risco, muito presente nos filmes hollywoodianos.

A Roleta Russa consiste em colocar uma só bala no tambor de um revólver, deixando as demais câmaras vazias; o jogador voluntário gira a roleta, põe a arma na fronte, e puxa o gatilho.

O protagonista tem cinco oportunidades do projétil não ser disparado e se safar com vida; por azar, se o projétil for disparado, assiste-se o horrendo espetáculo de um suicídio e o insólito desprezo pela vida.

Um meu sobrinho, com quem comentei sobre o uso da roleta russa num artigo, opinou pela condenação do jogo, e julgou o(s) praticante(s) dizendo que “quando o tiro acerta não há qualquer perda para a humanidade, pois o crânio esfacelado era carente de massa cinzenta” …

A-religioso, este parente é uma contradição ambulante; ama a vida, mas não crê que exista post-mortem, pensando diferente da maioria dos povos, sejam do Primeiro Mundo ou das tribos ainda na Idade de Pedra. A maioria da humanidade crê na imperecível continuidade da vida.

Diante desta ambiguidade fico entre o materialismo vulgar e a superstição porque quero ver julgados em vida e em espírito todos que causam mal à humanidade. Devem ser punidos, seja quem forem; fazedores de guerra e governantes que nada fazem pelos seus governados, ambos levando consigo os cultuadores de suas personalidades e os usuários do discurso do ódio.

Gostaria que uma força superior impusesse a punição exemplar aos indivíduos que não se submetem à exigência dos Deveres e Direitos na sociedade humana, uma legítima bipartição que mais do que dialética, é uma definição obrigatória para cada um.

Defendo que a realidade sócio-política castigue com o desprezo os rebanhos fanáticos encurralados por Bolsonaro e Lula, eliminando as antidemocráticas e desastrosas consequências que trazem ao País.

Precisamos agora, mais do que nunca,  divulgar os deveres do cidadão para com o Estado e o seu direito de receber em troca o respeito dos governantes às pessoas, independentemente do sexo, idade, nacionalidade e formação educacional.

Isto não ocorre na cena da politicagem vigorante nos andares de cima, e nos revolta ao ver a impunidade de criminosos pela Justiça, e o balaio dos políticos corruptos cheios de benefícios, imunidades, privilégios e prerrogativas.

As regalias de juízes, militares e parlamentares são revoltantes. E ainda querem adicionar este apanágio aos milionários pastores protestantes, ferindo o Estado Laico. É o que encontramos na Revolução dos Bichos, de Orwell, com porcos “mais iguais do que os outros”.

Enfim, para acabar com esta situação recorremos à Roleta Russa; cinco espaços vazios para a Nação e um projétil letal para a politicagem corrupta, o que trará a convocação de uma Assembleia Constituinte, sem a reeleição de todos atuais ocupantes de cargos eletivos.

A bala pertence aos cidadãos fardados que podem agir diante da impotência dos civis desarmados, como alertou Rui Barbosa: – “O Exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado”.

Será uma proposta “golpista”? Pouco importa, já que o Centro Democrático não é forte o suficiente para derrotar os polarizadores populistas e corruptos.

 

DO SUICÍDIO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Em artigo anterior, escrevi que a ideologia distorcida dos extremismos “de direita” e “de esquerda” – o “Populismo” –, usa o dinheiro do contribuinte e o mecanismo governamental para conquistar a simpatia das massas.

Populismo, como verbete dicionarizado, é um substantivo masculino que corretamente significa “o modo de governar em que certa pessoa procura conquistar a liderança de uma nação”. É a política paternalista das dádivas estabelecendo uma ligação com entidades e movimentos mantidos por verbas públicas e lideradas com pelegos estudantis, partidários e sindicais.

Essas lideranças falsamente humanitárias mantêm uma estreita atividade política, atuando como grupos de pressão pela ação direta e usuários da Internet como agitadores virtuais. Sua pauta é sustentar campanhas do interesse do partido.

A “falsa direita” e a “falsa esquerda”, na verdade populistas, fingem um enfrentamento midiático com a ajuda de uma propaganda maciça e da imprensa corrompida para impor à Nação a mentira de um confronto entre si.

Plantando o fanatismo no terreno estrumado e fértil da ignorância, os populistas criam a fantasia da polarização eleitoral para se alternarem no poder; e infelizmente logram êxito: Bolsonaro e Lula faturam de 20% a 30% eleitores cativos, um percentual que sustenta seus partidos com os abomináveis fundos partidário e eleitoral.

Na sua sabedoria, Gandhi lembrou que “uma gota de veneno compromete um balde inteiro; a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida”; na cena brasileira, o veneno é o dinheiro público que financia a mentira demagógica e corrosiva.

Mentira que produz uma erosão intelectual e se expande mordaz nos três poderes republicanos, contaminando como um vírus infeccioso o Legislativo e o Judiciário. O Congresso Nacional, preso à picaretagem comprada com emendas parlamentares e cargos, é transparente na ânsia de obter vantagens e não surpreende ninguém.

Revoltante é a indignidade do Judiciário, que faz e desfaz, afirma e nega, uma verdadeira biruta de aeroporto girando para onde os interesses dos togados levam; se assenta suspeitosamente no vago garantismo jurídico dos oportunistas. E, com isto, favorece a corrupção política e o crime organizado em nome dos “direitos humanos”.

Isto insurge uma reação colérica contra o ministro Dias Toffoli, mostrando-se cúmplice dos corruptos e corruptores e, sem vergonha, comprova sua participação nos desmandos de Lula, quando foi delatado sob o codinome de “Amigo do Amigo do meu Pai”.

Toffoli libera descaradamente as multas dos empresários punidos pela Lava Jato. Desse jeito, volta a se submeter ao “Chefe” que andava ressabiado por tê-lo visto servindo a Bolsonaro e salvando Flávio no caso das rachadinhas….

Também demonstrando de como os ventos mudam, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo, que acompanhava o colega Teori Zavascki defendendo a Operação Lava-Jato, mudou inexplicavelmente. Não se sabe porquê, ele classificava governo Lula de “cleptocracia” e passou a defender o Pelego de unhas e dentes.

Diante disto,  somos obrigados a denunciar este comportamento faccioso, temendo que se amplie no plenário da Corte; porquê se fortalece recebendo aplausos do populismo lulopetista – cujas relações com o crime organizado se evidenciou com a visita da Dama do Tráfico aos ministérios do Governo Lula.

Por coincidência suspeita, também o populismo bolsonarista silencia diante do desvario judicial em pagamento ao 5TF pela livrança dos filhos delinquentes do Capitão, agradecido e mantendo o sentimento paterno, mesmo ensandecido pela derrota eleitoral e a frustração do pretendido golpe de Estado.

A insanidade de Bolsonaro está levando-o ao suicídio. Não individual, mas à lá Jim Jones, como lembrou o lúcido Aloysio Nunes comparando-o com aquele pastor norte-americano que levou mais de 900 dos seus seguidores em 1978 a se suicidarem em Jonestown, na Guiana.

O móvel do Jim Jones brasileiro é uma manifestação-teste, para conferir os sequazes que lhes restam, levando-os à rua num suicídio coletivo. Triste; mas a demência extremista dos lulopetistas, como não poderia deixar de ser, convoca um semelhante evento como resposta….

Parece-me que ambos estão isolados, sem contar com o apoio dos brasileiros amantes da Democracia e da Vida que repudiam os métodos charlatães do populismo adotado pelos fanáticos cultuadores das duas personalidades polarizadoras….

 

 

O FATO E O ATO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Quando ainda não tínhamos a imprensa cínica e mercenária de hoje, um capítulo da História registra a resistência jornalística nas primeiras arengas antidemocráticas do movimento militar que derrubou o presidente João Goulart. Entre artigos, editoriais, entrevistas, crônicas e reportagens, há os antológicos artigos de Carlos Heitor Cony,  sob o título “O Ato e o Fato”, depois editados em livro.

Inverti a epígrafe de Cony como “O Fato e o Ato” para resistir à irresponsabilidade de Lula da Silva, expressando insanidades do limbo do seu egocentrismo grosseiro e ignorante; e criando uma crise entre o Brasil e Israel.

Afirmo, antes de mais nada, ser impossível acusar-me de antissemitismo; em toda a minha vida convivi e convivo fraternalmente com judeus, sendo que ainda criança, recolhi dinheiro naqueles cofrinhos azuis da Haganah para a instalação do Estado de Israel.

Posso expressar dessa maneira, sem vacilar, a minha dura repulsa à ideologia sionista e ao governo extremista de Benjamin Netanyahu, um fascistóide assentado sobre o tripé deplorável da ortodoxia religiosa, do militarismo expansionista e da política que despreza os kibutzim trocando-os por “assentamentos”.

Nada disto justifica, porém, a desastrada fala de Lula comparando o Holocausto com a invasão da Faixa de Gaza, território onde deveria se assentar o Estado Palestino; com esta afronta à História, além do conhecido apedeutismo e insensatez, ele se imagina acima do bem e do mal, por ter sido solto e elegível depois de sentenciado, preso e inelegível por corrupção e lavagem de dinheiro em três instâncias jurídicas.

Assume, graças aos seus “amigos” do 5TF, o desvario da impunidade e por isto os ministros togados do Supremo levarão ao futuro a responsabilidade desta culpa. Aliás, uma culpa dúplice; primeiro, por desrespeitar três poderes judiciais sem interpretação constitucional, baseados em pífios considerandos.

Segundo, pelo mal que a decisão infeliz da Corte causou à Nação Brasileira levando os amigos da Democracia a votar no Descondenado contra os arreganhos totalitários da Familiocracia Bolsonaro, que conspirava um golpe contra o Estado de Direito.

Este Fato detalhadamente divulgado ferve nas cabeças pensantes. Rememorar Hitler e as atrocidades nazistas é, além de extemporâneo, uma arma para os “antifascistas” de hoje, acusados na profecia da cintilante inteligência de Churchill: “Os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas”.

O Ato é tão condenável como uma empada venenosa recheada de cumplicidade e má fé, e apimentada com a brutalidade que as guerras provocam; e, pior, baixou uma pauta para os mercenários do jornalismo, exigindo-lhes incríveis acrobacias mentais para defender o indefensável.

A Síntese é o véu da vergonha que cobre o Brasil no concerto internacional trazendo o constrangimento nacional ao ver a humilhação que levou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv a visitar o Museu do Holocausto, o epicentro da vitimologia que memoriza a perda de seis milhões de judeus entre 24 milhões de eslavos, ciganos, deficientes físicos e mentais, homossexuais e opositores do nazifascismo de várias nações.

O Fato e o Ato decepcionam os humanistas em geral. Dos pacifistas que esperam dos seus governantes uma ação pela Paz e daqueles que estão conscientes de passar o vexame de ser visto lá fora como apoiador da barbaridade lulista.

A Síntese se amplia na medida da gigantesca revolta mundial assumida por pessoas de todas as idades, crenças políticas e religiosas e filosofia de vida. Vemos nas redes sociais, conversas familiares, em todo lugar, a manifestação condenatória `Lula, sem medida e sem medo.

Assim, desprezando a cicatriz do repúdio ao discurso de ódio, a Nação Multirracial Brasileira eleva a ideia de que Lula e Netanyahu pouco significam para a História da Humanidade. O Capítulo de Ouro abrangerá o desejo dos povos do mundo por uma Paz Duradoura.

 

 

 

SENTIMENTAL, EU SOU

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Roubei o título do romântico bolero de Altemar Dutra para desenvolver uma tese levantada por Graciliano Ramos fazendo uma auto análise: “considerando que me comovo em excesso, por natureza e por ofício, acho medonho alguém viver sem paixões”.

Eu tinha uma certa prevenção pela Astrologia e ignoro tudo sobre os signos, mas ouvi dizer que o sentimentalismo é produto da influência astral e passei a refletir sobre isto; se a Lua intervém no fluxo das marés, então é normal crer que a constelação de Câncer – que rege as minhas tendências –, impõe meu sentimentalismo.

Quando menino buchudo ouvia o Realejo da Adivinhação tocar na minha rua e as meninas-moças correrem pagarem um cruzeiro para o periquitinho, domado pelo velho cigano, entregar-lhes com o bico um cartão com o nome do futuro marido.

Não sei dizer se a expressão “o passarinho verde me contou…” vem daí. Procurei nos dicionários de gíria e expressões populares e não encontrei “passarinho verde”; achei no livro Locuções Tradicionais do Brasil do folclorista norte-rio-grandense Câmara Cascudo, uma referência ao periquito, usado antigamente para troca de bilhetes entre os amantes.

Há também uma lenda do século 19, segundo a qual as moças se correspondiam com os namorados amarrando mensagens de amor nas patinhas de um passarinho que pousava na grade da janela. A ave associada a esta lenda seria o periquito.

Das nossas heranças culturais temos a locução “viu passarinho verde” com o significado de quem se encanta por algo ou alguém que acabou de encontrar; a cor das penas da ave evoca uma alegre esperança.

No tempo de Graciliano, quando vigorava estes costumes, não se precisava estudar a biologia corporal nem deitar no sofá do analista para a psicanálise, como fazem hoje sem dia sem o realejo do cigano e com os periquitos engaiolados nos jardins zoológicos.

A realidade amplia problemas de bem-aventurança, desgostos e até desatinos, mais não nos levam às análises laboratoriais. E, na vida social, se limita a manjada teoria de que a Lei é para todos, para todos nós – sem exceção –, deixando-nos sujeitos ao comando invisível e insípido do respeito à Justiça.

Ou cumprindo prognóstico dos nossos signos? Tenho cá as minhas dúvidas, porque ao me valer do exemplo teórico da Lei, a experiência vivida lembra-me que a sua interpretação é desigual, relativa e seletiva…. Os excelentíssimos juízes vacilam entre o apelo da família de um réu e o patrimônio de outro.

Sabemos que a Justiça é aplicada por seres humanos e se submete ao humor do juiz, oscilando entre cegueira, surdez e a impiedade; é por isto que suprime a ideia de punir os crimes hediondos com a pena de morte….

Lembramos que as punições na Antiguidade (e ainda vigoram em alguns países) obedecem a uma escala baseada no “olho por olho e dente por dente”; têm a morte para o assassino, a amputação das mãos para ladrão, e chibatadas em público para os crimes menores. Para os corruptos a desapropriação dos seus bens.

Como condenavam os ocupantes do poder que se apossavam do bem público? Como puniam os que atentavam contra as instituições para se locupletar? Vamos à pesquisa histórica para saber; mas “um passarinho me contou” (e a informação me parece verdadeira), que existe uma conspiração civil e militar punitiva contra o governo Lula, sem a presença nefasta de Bolsonaro.

Seria a reação natural contra os desmandos de um governo ideologizado, superado, não por envelhecimento, mas pela sua inconsequência político-administrativa?

Esta questão me leva ao “Poeminho do Contra” do genial Mário Quintana: “Todos esses que aí estão “Atravancando meu caminho/ Eles passarão…Eu passarinho!”, e inspirado poeticamente abro meu bico para rogar uma praga aos polarizadores populistas que sabotam a paz, a ordem e o progresso do Brasil.

Sentimental, mas com muita paixão, eu gostaria que Bolsonaro e Lula recebessem o castigo do desprezo popular como punição, e fossem acompanhados nesta sentença pelos juízes garantistas e os políticos picaretas.

Os brasileiros estão fartos de uma Política e uma Justiça a serviço da corrupção e dos conhecidos corrompidos, corruptos e corruptores.

 

DOS DEMÔNIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Ouvi uma anedota outro dia pouco evangélica; evoca o Demônio, o mito que aparece com expressões e nomes diversos, sendo uma figura universal, conforme analisa o estudioso do assunto, o professor Mateus Soares de Azevedo (USP).

A piada fala do Demônio, seja como anjo mau, belzebu, cão, chifrudo, diabo, lúcifer, maldito ou satanás. Conta que São Pedro, caminhando ao lado de Jesus, assistiu uma briga de um Fariseu (o político de então) com o Demônio; irritado com ambos contundentes, pegou a espada e decepou a cabeça dos dois….

“Cristo, piedoso, repreende o apóstolo pela violência praticada: – “Agiste mal, meu caro amigo”, disse, e se afastou. Pedro, constrangido, voltou e recolocou as duas cabeças nos corpos caídos; retornando ao lado do Mestre, confessou constrangido que apressado para reparar o erro, pôs no tronco do Demônio a cabeça do Fariseu, e vice-versa….

“Na sua divina sabedoria, Cristo tranquilizou-o: – “Não faz mal. A troca não é grave, deixe as coisas como ficaram”.

É por isto que os políticos têm o Diabo na cabeça; e lembramos Nelson Rodrigues que se recusava a acreditar nos políticos, até mesmo dos mais simpáticos. Ele não pensava sozinho, muitos veem assim. No campo da política, os malefícios dos parlamentares, executivos e juízes são inegáveis.

Não é, porém, coisa dos nossos dias; vem da remota antiguidade o Espírito do Mal tentando as pessoas: no Gênesis (6: 5 e 8:21) está escrito: “a imaginação do coração do homem [é] o mal”, tirando-se daí o conceito de que é demoníaca a disposição de certas pessoas em fazer o mal, violando a vontade de Deus.

Na Mitologia greco-romana o Demônio foi visto como um espírito sobrenatural que personificava uma natureza entre a mortal e a divina, e estimulava os humanos a cometer desatinos.

A visão judaico-islâmica vê satanás como um ente subalterno a Deus; segundo o Velho Testamento e o Alcorão os diabos surgiram no sexto dia da Criação para coexistir com os seres humanos.

O budismo vê o diabo como uma entidade adversa à divindade de Buda, Mara, que representa a ilusão; foi aquela figura que tentou conquistar o príncipe Sidarta, “oferecendo-lhe lindas mulheres” que nas lendas são suas filhas. No hinduísmo, o diabo não vingou; tentou se achegar aos humanos, mas foi derrotado por Vishnu, o seu deus principal.

O taoísmo guarda a herança da antiga Pérsia, o dualismo do bem e do mal; os taoístas creem no confronto do bem e do mal, do Espírito da Luz com a Sombra das Trevas.

Como vimos, o Demônio passeia de formas variadas no catolicismo, no judaísmo, no islamismo, no hinduísmo, no budismo e no taoísmo; sendo que no Ocidente, a tradição cristã vem do Apocalipse, que descreve a guerra no céu, quando “200 anjos” liderados por Lúcifer, se rebelaram contra Deus… E derrotados pelo Arcanjo Miguel foram expulsos.

No Reino Celestial, Lúcifer chamava-se Samuel e se sentava ao lado de Deus; “era perfeito, sábio e formoso, mas sua ambição levou-o a se revoltar e pretender sentar-se no Trono” (Ez 28:15, Ez 28:17); a sua qualificação como “Demônio” está dicionarizada.

Como verbete, é um substantivo masculino de etimologia grega (daimon), chegando ao brasilês através do latim vulgar, (daemonium), designando o anjo caído que lutou contra Deus e instiga a perdição da humanidade.

Há uma versão de que os 200 anjos castigados pela intenção do mal são exorcizados pelos rabinos judaicos; na Geografia Católica, pelos padres, e, no Reformismo inglês e norte-americano pelos pastores anglicanos, batistas e evangélicos.

São muito poucos os que ficaram naqueles hemisférios; quase todos vieram para o Brasil e aqui se acomodaram com as bênçãos do 5TF. Infiltraram-se satanicamente como bolsonaristas e lulopetistas, fazendo com os seus malefícios o Brasil o único lugar do mundo onde há torcidas organizadas para a corrupção e o golpismo.

Estes demônios impõem aos brasileiros uma demoníaca polarização, farsa ideológica que está levando a nossa Nação para o caos.

DOS FANTASMAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Não acredito em fantasmas. Mas inúmeras testemunhas garantem que eles existem. Que me lembre, a genialidade de William Shakespeare pôs em cena dois. Um, na celebrada tragédia “Hamlet”, a lenda de um jovem príncipe dinamarquês que vê o fantasma do pai, denunciando ter sido assassinado pelo próprio irmão, que se casou com a sua viúva.

Outro, em “Macbeth”, quando num banquete com a nobreza, o personagem-título vê o fantasma de Banquo, capitão do exército do rei Duncan, sentado à mesa.  Alucina-se com isto pois assassinara o Rei da Escócia e ocupara seu lugar; como mandou matar Banquo, cujos desdentes se sentariam no trono, segundo uma profecia.

Das clássicas peças do dramaturgo e ator inglês, incomparável poeta e escritor, vamos como caça-fantasmas ao cinema. Lá encontramos vários filmes baseados nos livros do renomado romancista Charles Dickens, também inglês.

A obra mais vistosa de Dickens é “A Christmas Carol”, traduzida editorialmente para o português como “Um Conto de Natal”. Como filme, teve várias versões em Hollywood e em estúdios ingleses.

Conta a história de um velho avarento, Ebenezer Scrooge, uma criatura egoísta e pouco amistoso, insociável que abomina as festividades natalinas. Numa véspera do Natal, vê o espírito do seu ex-sócio, Jacob Marley, morto há sete anos e sofre o castigo pela sovinice arrastando pesadas correntes de ferro.

O Espectro adverte Scrooge de que ele ainda tem chance de escapar de pesadas penas pelo seu comportamento desumano e antissocial, mas para isto deverá receber a visita de três fantasmas.

E assim se dá: à meia-noite chega o Fantasma dos Natais Passados que leva Scrooge de volta à infância e juventude, quando amava a família e festejava o nascimento de Cristo; a seguir, vem o Fantasma do Natal Presente: este retrata com fortes cenas a sua frieza com relação às outras pessoas e o leva a assistir seu empregado, que explora e maltrata, reunir-se feliz com a família numa humilde mesa arrumada para a comemoração.

Viu que o seu escriturário é pai de quatro filhos, e com eles e a esposa mostram uma atenção carinhosa pelo mais moço, o frágil Pequeno Tim, que tem problemas na perna como sequela da poliomielite.

Por fim, aparece o Fantasma dos Natais Futuros que silencioso aponta a cena da sua morte solitária, sem amigos, e seu enterro tristemente indigente num cenário que emocionou Scrooge. Este, no dia seguinte, acordou completamente modificado, levantando-se sentimental e generoso.

Como um homem novo, o antigo avarento foi tomado pelo Espírito do Natal. Decidiu ajudar o seu empregado Bob Cratchit e torna-se um segundo pai para o Pequeno Tim. Escrito por Dickens entre outubro e novembro de 1843, “Um Conto de Natal” é visto como o criador das atuais celebrações natalinas.

Na literatura, teatro e cinema brasileiros, chega-nos uma versão ingênua da fantasmagoria com “Pluft – O Fantasminha” de Maria Clara Machado, revertendo toda expectativa amedrontadora dos Fantasmas, ao levar à cena um fantasminha tímido que tem medo das pessoas….

A intelectual e respeitada teatróloga patrícia, Maria Clara Machado, deu um mergulho na ficção totalmente distinta do que ocorre na política brasileira, onde dominam os fantasmas do horror, amedrontando o país ao promover a falta de educação, da saúde, da segurança e da corrupção.

Estas sombras espectrais rondaram o Estado de Direito em Brasília, arrastando as correntes antidemocráticas do finado fascismo. Demoníacas, exalaram a catinga de enxofre de um golpe contra as eleições presidenciais. Traziam até a revelação de uma minuta pronta para anunciar o estado de sítio!

Tais quimeras provocam temores entre os médiuns do Congresso Nacional, alguns mortos e insepultos; e traz também um alívio para os sensitivos do 5TF, como cortina de fumaça que esconde a cumplicidade da Corte com a corrupção lulopetista, através das decisões monocráticas de Dias Toffoli.

Contraditoriamente, a manifestação espectral política nos leva a acreditar que os mortos têm muito a nos dizer; e além disto nos diverte com o “Espírito do Carnaval”, fantasiado de Fantasminha Pluft, que canta em dueto com o espírito de Rita Lee: “A inocência não dura a vida inteira/ Brinque de ser sério/ E leve a sério a brincadeira”.