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Lula tacha de ‘sandices’ as críticas ao governo

Democracia? Ora, é o poder concedido aos mosquitos de devorar o leão. Nos seus dias de mosca, Lula comeu o pão que o Tinhoso amassou. À sua maneira, ajudou a mastigar a ditadura. Em seguida, pôs-se a rondar a presidência. Tentou uma, duas, três vezes. Na quarta, innnhhhac… Na quinta, innnhhhac, de novo.

Convertido em leão, Lula não convive bem com os zumbidos próprios da democracia. Nos últimos dias, abespinhou-se com as moscas que rondam a última sopa que o governo serviu à bugrada: o programa “Territórios da Cidadania.”

A oposição tachou a iniciativa de “eleitoreira.” Recorreu à Justiça Eleitoral contra o projeto, que prevê investimentos de R$ 11,3 milhões em 958 cidades de baixo desenvolvimento. Presidente do TSE e ministro do STF, Marco Aurélio Mello também levara o pé atrás ao saber do lançamento do novo programa.

Na noite passada, depois de alvejar as legendas oposicionistas, em viagem ao Ceará, Lula mordeu também o Judiciário depois de desembarcar em Aracaju: “Seria tão bom se o Poder Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas dele o Legislativo apenas nas coisas dele, e o Executivo nas coisas dele.”

O presidente convocou deputados e senadores nordestinos a erguer, nas tribunas do Congresso, barricadas contra “as sandices” que estão sendo ditas contra o programa Territórios da Cidadania. Em seguida, sem mencionar-lhe o nome, fincou os dentes em Marco Aurélio.

“Ele quer ser um ministro da Suprema Corte ou político? Não tem um palpite meu no Legislativo e o governo não se mete no Judiciário. Se cada um ficar no seu galho o Brasil tem chance de ir em frente. Mas se cada um der palpite na vida do outro, a gente pode conturbar a tranqüilidade da sociedade brasileira”.

Ora, não cabe à oposição senão vigiar o governo, com os instrumentos de que dispõe. Um deles é o recurso ao Judiciário. Aos magistrados, por sua vez, cumpre fazer cumprir a lei. O que diz Marco Aurélio? “A lei veda, em bom português, o elastecimento de programas sociais no ano das eleições. Isso foi aprovado pelo Congresso Nacional e foi aprovado para valer.” Em tese, portanto, não é despropositada a suspeita dos críticos do novo programa.

Sobres as mordidas de Lula, Marco Aurélio contemporiza: “Eu sou um arauto da liberdade de expressão. Respeito o ponto de vista do presidente da República. Agora, os poderes são harmônicos e independentes. São os freios e contrapesos que levam a uma contenção na atividade administrativa. Eu só posso atribuir as palavras como um arroubo de retórica.”

Lula contra-argumenta que o governo não pode cruzar os braços só porque o ano é eleitoral. Ok, é do jogo. O que soa estranho, despropositado mesmo, é que Sua Excelência o leão queira esmagar os mosquitos. Nesta sexta-feira (29), ao se dar conta de que abusara da retórica, o rei das selvas rugiu como gato: “Não existe crise entre Poderes. Até porque cada poder tem autonomia suficiente e nós aprendemos que a sustentabilidade da democracia está em saber respeitar a autonomia de cada um.” Então, tá!

Fonte: Josias de Souza

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